catarina medici
Aero-remodelismo
Raul Bilirrubina, o famoso escritor de utopias literárias , nas
quais usava o pseudónimo de Cardoso Cuco Castelo, aquando da apresentação do
seu último livro disse que se iria dedicar à politica.
A audiência primeiro pensou que se trataria duma blague para chamar a atenção, mas rapidamente percebeu que representava uma decisão séria.
Ao se ter criado um ambiente de alguma surpresa, Cardoso Cuco Castelo, ou melhor Raul Bilirrubina, achou por bem dar mais detalhes sobre o que iria fazer. E eis que revela algo ainda mais inesperado: tinha sido convidado para Ministro das Florestas e preparava-se para aceitar.
Não podemos tomar a árvore pela floresta, relembrou, e como ele ficaria com o pelouro da floresta teria ocasião de olhar para todos os outros e dizer-lhes: «vocês só estão a ver a árvore, deixem comigo que eu vejo a floresta»
A audiência saltava de estupefacção em estupefacção, apesar de não terem chegado a ficar estupefacientes, e agora já nem sabiam se deviam considerar aquilo uma brincadeira, ou uma grande ingenuidade do escritor, ou até uma maior ingenuidade de quem o tivesse, eventualmente, convidado, e no limite até terá havido um ou outro convidado que tenha pensado que ali se revelava finalmente uma qualquer genialidade até aí escondida.
Claro que apareceu logo um brincalhão de serviço que esganiçou o previsível aparte de que todos os guardas florestais iriam ser promovidos a secretários de estado, mas em geral as pessoas entreolhavam-se num silêncio pontilhado daquele típico esgar de lábio em meia-lua e olhos quase arregalados.
Já se estava na fase dos autógrafos quando Cardoso Cuco Castelo, aliás Raúl Bilirrubina, disse a um dos assistentes que era preciso ter cuidado pois se uma andorinha não fazia uma primavera uma árvore já podia fazer uma floresta. Este último, intrigado, perguntou como seria isso? Tudo tem a ver com as sementes, respondeu com algum enigmatismo Cardoso CC, - aliás, bem, já sabem o nome dele - e nesta remodelação pretendeu-se voltar a ver as coisas mais por cima da rama.
O incidente passou, as pessoas também já estavam mais a pensar em ir para casa jantar e assistir aos comentários sobre os novos episódios da nova telenovela Les Irrévocables, mas no final da sessão uma pessoa foi ficando, ficando até só restar ela e o próprio futuro ministro das florestas, os dois especados na sala que nem dois pinheiros preparados para lhes sacarem a resina.
Senhor ministro, acho que lhe poderia ser útil. Como assim, respondeu Cardoso CC, entre o surpreendido e o negligente sem esconder o incomodado. Tenho muita experiência no desbaste e calculo que vai ter muito que desbastar. Talvez, respondeu Cardoso, cofiando um bigode que não tinha há mais de 15 anos, mas ainda não lhe despertando a atenção a ponto de ter desistido de fazer ir fazer uma mijinha - não se esqueça do que tem para me dizer, mas já não aguentava mais; aaahh, ffff.
Aquele momento em que um homem espera que outro mije geralmente é ocupado pelo que espera com pensamentos de registo obscuro, no entanto aquele representante do que restava de uma audiência não perdeu tempo e disse bem alto: veja lá se esse ministério não vai servir para que os outros tenham onde fazer uma mijinha na hora do desbaste de custos.
Cardoso saiu da casa de banho ligeiramente alterado, nada que lhe tivesse perturbado o sempre delicado movimento do fecho éclair mas o suficiente para o colocar em expectativa – o que quer dizer com isso?
Senhor ministro, acho que na remodelação lhe deram esse ministério não por causa daquela lengalenga da árvore e da floresta, mas para terem um sítio qualquer onde os cortes sejam fáceis e naturais de fazer e, pelo sim pelo não, sempre lá podem ir fazer uma mijadela de vez em quando. Diga-lhes só para não mijarem contra o vento.
A audiência primeiro pensou que se trataria duma blague para chamar a atenção, mas rapidamente percebeu que representava uma decisão séria.
Ao se ter criado um ambiente de alguma surpresa, Cardoso Cuco Castelo, ou melhor Raul Bilirrubina, achou por bem dar mais detalhes sobre o que iria fazer. E eis que revela algo ainda mais inesperado: tinha sido convidado para Ministro das Florestas e preparava-se para aceitar.
Não podemos tomar a árvore pela floresta, relembrou, e como ele ficaria com o pelouro da floresta teria ocasião de olhar para todos os outros e dizer-lhes: «vocês só estão a ver a árvore, deixem comigo que eu vejo a floresta»
A audiência saltava de estupefacção em estupefacção, apesar de não terem chegado a ficar estupefacientes, e agora já nem sabiam se deviam considerar aquilo uma brincadeira, ou uma grande ingenuidade do escritor, ou até uma maior ingenuidade de quem o tivesse, eventualmente, convidado, e no limite até terá havido um ou outro convidado que tenha pensado que ali se revelava finalmente uma qualquer genialidade até aí escondida.
Claro que apareceu logo um brincalhão de serviço que esganiçou o previsível aparte de que todos os guardas florestais iriam ser promovidos a secretários de estado, mas em geral as pessoas entreolhavam-se num silêncio pontilhado daquele típico esgar de lábio em meia-lua e olhos quase arregalados.
Já se estava na fase dos autógrafos quando Cardoso Cuco Castelo, aliás Raúl Bilirrubina, disse a um dos assistentes que era preciso ter cuidado pois se uma andorinha não fazia uma primavera uma árvore já podia fazer uma floresta. Este último, intrigado, perguntou como seria isso? Tudo tem a ver com as sementes, respondeu com algum enigmatismo Cardoso CC, - aliás, bem, já sabem o nome dele - e nesta remodelação pretendeu-se voltar a ver as coisas mais por cima da rama.
O incidente passou, as pessoas também já estavam mais a pensar em ir para casa jantar e assistir aos comentários sobre os novos episódios da nova telenovela Les Irrévocables, mas no final da sessão uma pessoa foi ficando, ficando até só restar ela e o próprio futuro ministro das florestas, os dois especados na sala que nem dois pinheiros preparados para lhes sacarem a resina.
Senhor ministro, acho que lhe poderia ser útil. Como assim, respondeu Cardoso CC, entre o surpreendido e o negligente sem esconder o incomodado. Tenho muita experiência no desbaste e calculo que vai ter muito que desbastar. Talvez, respondeu Cardoso, cofiando um bigode que não tinha há mais de 15 anos, mas ainda não lhe despertando a atenção a ponto de ter desistido de fazer ir fazer uma mijinha - não se esqueça do que tem para me dizer, mas já não aguentava mais; aaahh, ffff.
Aquele momento em que um homem espera que outro mije geralmente é ocupado pelo que espera com pensamentos de registo obscuro, no entanto aquele representante do que restava de uma audiência não perdeu tempo e disse bem alto: veja lá se esse ministério não vai servir para que os outros tenham onde fazer uma mijinha na hora do desbaste de custos.
Cardoso saiu da casa de banho ligeiramente alterado, nada que lhe tivesse perturbado o sempre delicado movimento do fecho éclair mas o suficiente para o colocar em expectativa – o que quer dizer com isso?
Senhor ministro, acho que na remodelação lhe deram esse ministério não por causa daquela lengalenga da árvore e da floresta, mas para terem um sítio qualquer onde os cortes sejam fáceis e naturais de fazer e, pelo sim pelo não, sempre lá podem ir fazer uma mijadela de vez em quando. Diga-lhes só para não mijarem contra o vento.
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Uma república acima das nossas possibilidades
D. Duarte Pio – Isabelinha, minha querida, se calhar está na
altura de fazermos um golpe de estado
D. Isabel – Senhor, acho que não tenho nada que vestir para
uma ocasião dessas
D. Duarte Pio – No estado em que isto está o mais ajustado é
um fato-macaco
D. Isabel – Querido, chamam-se jardineiras e já não me
servem desde que entrámos para a moeda única
D. Duarte Pio – Tudo te fica bem, minha rainha, desde que não
ponhas uma saia muito travada, pois podemos precisar de correr, por mim tudo
bem
D. Isabel – Senhor, já mostras a magnanimidade dos grandes
estadistas…
D. Duarte Pio – Achas que depois devemos manter o menino passos
coelho e os outros como ministros do reino?
D. Isabel – Credo, Senhor, antes chamar a padeira de
Aljubarrota e juntá-la com o Miguel de Vasconcelos
D. Duarte Pio – Então e exilamo-los para onde?
D. Isabel – Há aquela ilha das cagarras ….
D. Duarte Pio – Mas essa já está reservada para o senhor doutor
anibal…e se lhes pusermos também umas anilhas e os deixarmos ir para casa,
assim nem davam despesa?...
D. Isabel – Dava uma imagem de poupança, sim… e o que
fazemos com os da troika?
D. Duarte Pio – Então, ao selassié fazemos barão da damaia e
aos outros viscondes da bobadela
D. Isabel – E aos mercados?...
D. Duarte Pio – Então, montamos uma Câmara Alta no bolhão e
pomo-los lá a perorar com yelds
D. Isabel – Mas isso é que é uma verdadeira mudança de
regime, meu Amor, corre-te no sangue o fluido dos grandes reformadores
D. Duarte Pio – Sinto que estive os anos todos a ser
preparado para este grande momento
D. Isabel – Mas olha, amor, eu hoje tinha combinado ir aos
saldos, achas que podemos fazer o golpe de estado antes amanhã…eu até já teria
o guarda-roupa mais adequado e tudo para a restauração 2.0
D. Duarte Pio – Vais ter de fazer sacrifícios, uma rainha
tem de pensar primeiro no seu povo…
D. Isabel – Achas que o povo está à frente da minha
reputação e tudo?
D. Duarte Pio – Não sei… isso vai ter de ficar definido na
nova constituição
D. Isabel – Mas achas que vai ser preciso fazer outra!? Não
serviria o catálogo da Redoute?
D. Duarte Pio – Não sei, eles com a república ficaram um
bocado esquisitos
D. Isabel – Meus Deus, em que estado é que isto estará… Não
seria melhor arranjarmos um regente?
D. Duarte Pio – Sim…e até podíamos deixar tudo como está !, só que passava a ser monarquia e já não eramos responsáveis pelas
dívidas da república
Isabel – Amor, tanto talento desperdiçado, mas posso à mesma
comprar roupa nova para o golpe de estado, não posso?
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Uma salvação acima das nossas possibilidades
Baptista da Silva – olha lá, achas que está na altura de dar
mais alguma entrevista?
Capitão Roby – eu noutro dia comi uma gaja que é pivot e
meto-te na boa numa mesa redonda
Baptista da Silva – desta vez tinha pensado em dizer que era
observador por parte do kremlin
Capitão roby – tem cuidado que eu uma vez comi uma ucraniana
com tranças mas fiquei ulcerado no estômago, julgo que estava contaminada
Baptista da Silva – sim, tens razão, se calhar opto por dizer
que sou fiscal d’excel
Capitão roby – por acaso noutro dia comi uma miúda em cima
dum power point e ela disse-me que eu tinha um outlook fatal
Baptista da Silva – olha, estou a pensar apresentar um
estudo que demonstra que há uma correlação directa entre a austeridade e a
austeridade
Capitão roby – isso lembra-me uma vez em que eu andava a comer
umas gémeas que também trabalhavam em correlação
Baptista da silva – a libido e a economia andam muito
ligados…
Captão roby – não me digas…o mais parecido que comi com uma
economista foi uma escritora de livros infantis
Baptista da Silva - sim, e na economia também se aprende a
controlar os impulsos sob pena de tudo se esvair em superavits precoces...
Capitão roby – aishh... nessa onda o pior que me aconteceu foi numa fase em que
andei com a mania da miúda única… passava o tempo com restrições e quando voltei
ao mercado reparei que estava muito desvalorizado e nem tinha dado por isso,
foi um castigo para voltar a sacar umas miúdas novas
Baptista da Silva – pois é, isso é terrível, eu se calhar vou
antes fazer um estudo empírico a demonstrar que o que trama a moeda única é ela
ser única, por exemplo, num país com várias moedas únicas acho que esta crise
nunca aconteceria
Capitão roby – olha, lembras bem, uma vez andei com umas empíricas suecas e
digo-te, nunca chegava a ser necessário arranjar uma teoria para aquilo tal a variedade
de resultados, e bons, que se obtinha. Eu sou um apologista fanático do estado
social em formato loiro e robusto, detesto escanzeladas, aliás, estou sempre em greve de escanzelo.
Baptista da Silva – eu também gosto muito do estado social,
uma vez fiz um estudo para a rádio renascença em que demonstrava que há uma
correlação directa entre o nº de terços rezados pelas pessoas juntinhas em Fátima
e o número de avé marias produzidos pelo País…
Capitão roby – sim, sim, as religiosas são as melhores, um
tipo tem é que lhes levar os filhos à catequese, ouvir uma ou outra ladainha, mas
depois são muito certinhas, têm a noção do dever, não sei se estás a perceber?
Baptista da Silva – por isso é que eu já defendi que para
nós termos bem a noção do dever, têm é de nos emprestar ainda mais, pois quanto
mais devermos mais noção temos, e assim por diante, é logarítmico e tudo, já
expliquei isso uma vez numa conferência para prémios nobel da paz que organizei
no Porto Brandão
Capitão roby – nem me fales da Porto Brandão, pá, uma vez comi
lá uma gajita a julgar que era a angelina joli e afinal era a empregada duma
pastelaria na costa da Caparica que tinha perdido o autocarro e sofria de asma e tinha o peito metido para dentro
Baptista da Silva – meu Deus, o mundo é muito dado a confusões, é…, olha
que ainda noutro dia estava a dar uma conferência para tipos com problemas de
inserção social e depois descobri que aquilo era mesmo o conselho de ministros,
e nem foi o tipo do lacinho que me levou lá!
Capitão roby – eu gosto muito de inserção social! Muito mesmo.
Sem isso não há salvação. Aliás, só concebo mesmo a sociabilidade em geral num ambiente de inserção em particular.
Baptista da Silva - então se calhar hoje vou mesmo aceitar o estatuto de observador da salvação nacional, vendo bem uma pessoa não se pode estar sempre a expor, não é?
Capitão Roby - discrição acima de tudo, sim, o segredo é a cama do negócio
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Uma democracia acima das nossas possibilidades
PSD – então rapazes, vamos lá fingir que chegamos a um
acordo qualquer sobre qualquer coisa com um objectivo qualquer
CDS – bem, eu já paguei o meu preço de reputação…, agora é a
vossa vez
PS – queridos, eu só preciso de ir aguentando isto até às
novas eleições, vocês já sabem…
PSD – primeiro temos de escolher um tema para estarmos de
acordo…
CDS – podíamos escrever um texto sobre a cereja do fundão….
PS – é pá, também é chato dar cabo da reputação da cereja…
PSD – olhem, e se disséssemos que nos tínhamos reunido em
boliqueime e isto ficava como o os ‘acordos de boliqueime’, desarmávamos o
gajo…
CDS – pois, pois, e falávamos das amendoeiras em flor e
assim…
PS – e vocês levavam a mal se intercalássemos uns versos do
Manuel Alegre?
PSD – por mim tudo bem desde que eu ainda vá lanchar a casa…
CDS – e eu com isto já perdi a missa do meio-dia…
PS – a democracia tem um preço…
PSD – acham que 3 páginas chegam?
CDS – se calhar devíamos falar sobre as berlengas para dar
um ar de ainda maior abrangência ao acordo?
PS – sim… tipo refúgio pós troika, o gajo anda obcecado com
o pós troika… será que ele pensa que também há uma depressão pós troika?
PSD – já se bebia era qualquer coisa…detesto consensos assim
com a boca seca
CDS – quando íamos com o Paulinho às feiras tínhamos sempre
ginjinha com fartura…
PS – e não terá ele abusado da bebida?...
PSD – vá lá, não me distraiam que isto está quase pronto…olhem
lá, se pusermos isto a acabar com um verso do Herberto Helder, então é que isto
fica mesmo à prova de bala, hem?
CDS – não pode é ter palavrões por causa do bébé da ministra
cristas!
PS – olha que até está a ficar um texto todo catita, sim
senhor, belo Compromisso de Salv[e-se quem puder]ação Nacional que a gente aqui arranjou, hem!
PSD – vocês não acham que o gajo vai topar que isto é
tudo só treta para ver se ele se cala?
CDS – na… ele quer é ir sossegado de férias e que a Mariazinha
não o chateie, e que o bulhão pato seja amigo das ameijoas, o importante é o
primado da família e…
PS – é pá esquecemos-nos de pôr isso…
PSD – meninos agora já não vai a tempo, falei da
miscigenação das raças, da língua portuguesa, do pastel de nata, da ínclita geração
e já foi um pau, agora tenho de me despachar porque já mandei pôr o pargo no forno
lá em casa
CDS – isto está tão consensual que até o rato mickey
assinava, pá!
PS – esperemos que agora não venha o soares e estrague isto
que nos deu tanto trabalho a escrever
PDS – assim até dá gosto fazer Consensos & Compromissos nacionais, pá,
ainda franchisamos esta coisa, melhor que nisto só mesmo nas cartas de demissão, ...agora é a vez do PS também
fazer uma dessas para nós brincarmos, hem!
CDS – sim, senão depois disto brincamos com quê?! Este selassié
nem usa rastas!
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Um presidente acima das nossas possibilidades
M. – Filho, desta vez vais mostrar que és um homem, ou quê!?
A. – filha, estamos quase em férias…deixa lá isto passar…
M. – Nem penses! Ainda te chamam banana!
A. – mas ó filha, eu tinha prometido aos nossos netinhos que
ia jogar com eles ao sete e meio para o Algarve!
M. – Eu levo os miúdos para baixo e tu ficas cá para mostrar
que existes!
A. – mas eu existo…
M. – Tu não existes, filho, fora dos programas de comédia
não existes, desta vez vais ter mesmo de fazer alguma coisa para te fazeres presidente
existente!
A. – achas que se eu fizer outro discurso sobre o estatuto político
dos Açores estará bem?
M. – Ó filho, tu atreve-te! Tu agora vais ter mesmo de
deixá-los à toa! Não me interessa nada do que vais dizer, eles têm é de ficar:
à toa.
A. – então…mas só se eu disser que aceito o Portas mas só se
ele fizer um corte de cabelo igual do Nuno Melo…
M. – Não dá, filho, ele ainda compra um capachinho e
safa-se, tens de ser mais incisivo, raio! Será que também vou ter que ser eu a
resolver isto como tive de fazer ontem com os estores que estavam encravados!
A. – ó querida, isso é que me fazias mesmo um grande favor…
eu estou aqui com uma dor nas cruzes e tudo por causa duma posição que tive de
fazer com as costas durante a última tomada de posse
M. – Olha, tu vais lá e dizes que sim mas que não eventualmente
assim-assim, ou então coiso.
A. – parece-me bem pensado e dá imagem de durão, mas olha…e
depois posso ir para baixo com os netinhos?
M. – Só podes ir quando o Portas ficar careca, antes disso
estás proibido. Deixo empadão no congelador e já limpei a gravata cor de
salmonete que estava com aquela nódoa de sardinha assada
A. – e se eles depois me disserem: 'então agora tome conta
disto'... o que é que eu faço?
M. – Nesse caso, chamas a troika e marcamos aquele cruzeiro
na Somália para ver os piratas!
A. – mas ó filha, eu preferia ir antes jantar fora uns
salmonetes ali a setúbal?
M. – Primeiro os piratas, depois, quando voltarmos, se setúbal
ainda for nosso vamos aos salmonetes!
A. – estou com muito medo, já sem sei se consigo fazer a
minha cara de pau…
M. – Consegues querido, claro que consegues, fazes assim: quando
estiveres a ler o discurso pensa naquele dia em que o nosso netinho mais novo
te bolsou para cima das calças e então faz a mesma cara!
A. – achas então que eu ainda sou muito homem?
M. – Claro, filho! Uma mulher nunca faria figuras destas!
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Acabaram as gaspadinhas venha a lotaria popular
Pouco ou nada tenho escrito sobre a chamada realidade realmente
real (tirando uns dispersos da vie au tanga, au bailout e au rachat) pois, como
seria expectável, irei daqui a uns tempos escrever os textos que serão
definitivos sobre o tema e preciso de manter o meu estatuto técnico de espectador
distante - pois não tenho perfil churchilizável. Contudo, apenas uma doença de índole
hemorroidal aguda e em fase eruptiva me impediria de sentar aqui neste momento
e declarar que, dois pontos:
se por mero acaso, ou leviandade de punho, voltarmos a eleger um tal engenheiro
técnico pós-graduado em velhas oportunidades, nem que seja para tesoureiro numa
junta de freguesia, é porque somos uns tais de gajos que merecemos ser
confiscados de todos os depósitos acima de qualquer valor.
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