Hoje levei comigo a S. a almoçar. É uma mulher que se
enquadra na tipologia clássica de ‘parar o trânsito’. É minha cliente, tem um
negócio em fase de stress, já a salvei de muitos apuros, mas hoje leva uma vida
semi-regalada. É casada com um tipo porreiro, pachola e bom rapaz, um pouco
estúpido até. Não quis vir. Certamente acha, e bem, que eu não lhe
desencaminharei a mulher, ou melhor, que a mulher não se perderá por minha causa.
Não abona muito nas minhas capacidades, mas também ninguém sabe. Dois segundos
depois de termos entrado a L. já tinha toda a fotografia da situação fornecida
pelos espiões de sala, cada um atento e especializado ao seu detalhe, aliás o
que tinha o pelouro de medir a altura das mini-saias não disfarçou muito. A S.
tem umas pernas de capa de revista (para além de um rabo de vitrine, um busto
de republicana, uma cintura de sereia e uma carinha de anjo em fase de
magnificat). Pedimos ambos uma paella, fica sempre bonito comer a meias com uma
mulher daquelas. Falou-se de negócios e a rapariga-dos-molhos fazia a sua
inspeção técnica em cada 5 minutos, de tal forma se focava nas nossas caras que
devia ser a responsável pelo departamento das covinhas na bochecha. L. apareceu
duas vezes na sala. Na primeira passou juntinho à nossa mesa, fez um sorriso à
S. a que esta retribuiu, e que a predispôs a perguntar-me se eu costumava lá ir
muitas vezes. ‘De vez em quando’, se bem que daria mais efeito ter dito ‘de
quando em vez’. O almoço foi inesperadamente decorrendo sem incidentes de
maior. Ou o ciúme já não é o que era, ou fui mesmo colocado entre o açucareiro
e a vinagreira. O que é um facto sem interferência de especulação é que saí de
lá de barriga cheia mas de mãos a abanar.
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