Almoços Grátis. série 3 [15]

Hoje escolhi uma japonesice que aparecia no menu. Um rolos de salmão a envolver uns pedaços de peixe manteiga misturados com um queijo que, não duvidando que proviesse duma vaca, já não ponho as minhas mãos sobre aquilo que a dita pastaria ou pastará. Não sei onde é que a L. desencantou aquelas ideias, mas revelou-se bastante bom. O restaurante estava à pinha, tive inclusivamente de esperar por uma mesa vaga, o que aconteceu pela primeira vez desde que lá voltei. Numa das mesas estava um antigo amigo da L. e , como seria de esperar, ela ia-se desmanchando em solicitude. De vez em quando fazia-me umas caretas, daquelas que podem dizer tudo mas que na realidade não dizem nada e nos deixam à solta numa equação de biorritmos. Chamei a rapariga dos molhos com o intuito de me meter com ela mas, como seria previsível, sou bastante melhor no improviso e saiu-me uma piada qualquer meio desconchavada que já nem me lembro bem. Certamente por educação riu-se e, hélas, passou-me (tecnicamente pode-se mesmo dizer que pousou) a mão pelo ombro. Um tipo quando se torna uma flor de estufa sentimental, quer por fragilidade quer por mera tática, desenvolve um potencial sensorial digno dum programa da national geographic, aliás um ser enamorado só não caça moscas com a língua porque a preserva para outras coisas. Ainda pensei em flirtar um bocadinho a rapariga só para ver a reacção da L. mas não quis correr o risco de descobrir que lhe era indiferente, ou, até pior, que tinha sido ela a indicar-lhe para se vir meter comigo, como quem pratica um desporto novo. E assim perdi uma hora de almoço com estes pensamentos elevados que só não fazem girar o mundo porque este está perro e totalmente dependente dum monte de gazes que convencionámos chamar sol.

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