Qualquer homem num determinado momento da sua vida precisa
de ter uma mulher de confiança. Seja
qual for a posição formal que ocupe na sua vida (cuidado que as mães nunca são
de confiança) trata-se de alguém em que ele possa encontrar aquilo que não tem,
nem nunca terá, por força duma fatalidade que se dá pelo nome de natureza. A mulher, sem deixar de ser
também uma construção social e cultural, (como o homem, de resto, mas este menos)
encerra em si um pouco daquilo que apenas a religião consegue fornecer com
estilo, ou seja: o mistério. Apesar de Pessoa ter alertado para que «o único
mistério é haver quem pense no mistério», é impossível fugir à inegável
capacidade que a mulher tem em se constituir numa espécie de metafísica com
pernas ( e mais qualquer coisa de bónus). A mulher, ciente dessa sua
característica desde muito tenra idade, (mantendo-se, muitas delas, inclusive
tenras por muito tempo) tem uma forte tendência para lhe ir acrescentando
muitos outros atributos que acabam por diluir o papel peri-religioso que
recebeu das entranhas da criação. É assim para o homem uma tarefa de primordial
importância saber discernir de todas as mulheres que as circunstâncias lhe
colocaram no caminho, qual ou quais as que podem ser realmente a sua ponte, a
sua ligação ideal, a sua chave, a sua ignição. Como a mulher é extremamente
permeável às iconografias de camuflagem, isso acaba por permitir ao homem
construir uma espécie roteiro de decifra que funcione como descodificador de
bolso. É desses sinais (mutáveis e vulneráveis à dissimulação feminina, claro)
que aqui falarei, nestes momentos históricos em que se irá definir qual o tipo de mulher a que temos direito.
O primeiro que me parece consensual é o uso de bandelette. A gestão (da forma) do
cabelo é uma das principais rotas de definição do humano ( o animal, por exemplo, pode arranjar as unhas ou garras mas não se auto-penteia) e a mulher
forçosamente não consegue fugir a esse processo. Com maior ou menor consciência o seu penteado vai
transmitir aquilo que ela é, e, mais precisamente, é para o homem. Ora a
bandelette é um instrumento de eleição para a mulher emitir um sinal inequívoco
de que: tem a consciência de que é um ser-da-selva mas que se sabe controlar. A
mulher bandeletizada prova com esse adereço que saberá constitui-se num
acondicionador para o lado desregrado do homem e que saberá estar ao lado dele
quando for preciso atravessarem o rio, esteja ele cheio de predadores ou apenas com uma corrente mais forte. O homem poderá
confiar nela pois nunca deixará que o vento lhe leve o cabelo a tapar a vista, a mulher com bandelette nunca perderá a perspectiva, nunca se deixará ficar
presa em nenhum ângulo morto ou arame farpado. Por outro lado, a mulher-de-bandelette não vai
perder tempo a cortar franjas, a endireitar linhas de penteado nem a empinar caracóis (tendo até mais disponibilidade para empinar outras curvas),
será sempre uma mulher prática que não deixará o homem perder-se em divagações,
em pensamentos inúteis ou de uma futilidade castradora. A mulher de bandelette
não terá a tentação de soprar a cortina de franjas, será muito menos atreita a
usar rabo de cavalo (o enfeite mais enganador para o homem), e nunca deixará
avolumar em excesso o seu cabelo, ou seja, manterá a sua nobreza sempre
conservada num banho de sobriedade. Sendo a mulher bastante atreita às
limitações impostas pelas convenções sociais (muito mais que o homem) o uso da
bandelette evidenciará que ela é das que, compenetrada nessa sua histórica fragilidade,
saberá pôr o homem que confia nela acima de todas as luxúrias de condição ou liturgias de ilusória libertação.
Podemos, pois, afirmar com alguma segurança, e sem recorrer a discurso fácil ou de cassete, que uma mulher em estado-de-confiança provavelmente usará uma bandelette.
Podemos, pois, afirmar com alguma segurança, e sem recorrer a discurso fácil ou de cassete, que uma mulher em estado-de-confiança provavelmente usará uma bandelette.
2 comentários:
bem, o suposto mistério feminino continua a alimentar a literatura...
beijinhos, mestre. ;)
Beijinhos :)
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