Foi esta semana decretado que é proibido morrer até 2017. Os
cemitérios estarão com enormes deficits, e não há verba para enterros decentes
nos próximos tempos, resumindo: ou há subsídios ou há enterros, houve que
escolher. Ficam de fora apenas os casos de suicídios e as septicemias, mas os
cancros e os traumatismos vão ter de esperar por melhores dias. Se virmos bem é
uma medida acertada, há muita morte estúpida, mal planeada, muito oportunismo,
muita gente que se quer aproveitar e vivemos um momento difícil em que todos
têm de dar o seu contributo. Eu cá tinha decidido morrer para o ano, mas posso
perfeitamente esperar e sacrificar-me um bocadinho.
Por outro lado soube-se há poucos dias que a Troika
condiciona o acesso de Portugal aos mercados ao aparecimento da pilinha de
Flávio Cossaco. É conhecido que tem causado mau estar nos círculos financeiros
internacionais a incapacidade das autoridades portuguesas em suster a fuga de
pilinhas para o estrangeiro e teme-se que este caso seja a ponta do iceberg
duma rede de trafico de pilinhas. Mesmo assim, o projecto legislativo, já
conhecido como a Lei Cossaco, tem levantado fortes reservas, designadamente à
Ordem dos Epigrafistas que, tendo perdido o controlo da atribuição de umbigos
oficiais da nação, se vê agora também na iminência de perder o controle ao contingente
nacional das Pilinhas de Valor Intrínseco e Acrescentado (as pivia), algo que tinham logrado alcançar
depois de muita reivindicação e que consideravam fazer jus, entre outras
coisas, à memória de Custódia Passos, a malograda epigrafadora e autora de Sorte Macaca. Como ela costumava dizer:
«No espremer bem é que está o ganho»; essa é que é essa.
Excerto da Crónica Mensal de Bernardo Marujo Cidreira (pseudónimo de Julio Paisana), Essa é que é essa, publicada no número
especial de Páscoa de 2015 de O Badanal.
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