Almoços Grátis. série 2 [7]

O restaurante fez ligeiras obras para poder ter uma zona de recepção um pouco maior. L. parece fazer agora, seria só hoje?,  um pouco de relações públicas. Apanhou-me desprevenido. Disse logo que me tinha esquecido de uma coisa importante e fui-me embora. É por estas e por outras. Olhe que hoje temos empada de lebre, pareceu-me ouvir dizer. Quero bem que se foda o coelho e mais a sua empada. É por estas e por outras. Há dois anos ela disse-me: se calhar é melhor deixar de cá vir por uns tempos. O 'por uns tempos' se calhar estou eu a acrescentar agora. Todos temos direito aos nossos dunquerques.

Mudei a cor do cabelo, fiz nuances de três cores. Digo, na brincadeira, que é para condizer com o novo guarda-vento de alumínio lacado a azul que o patrão mandou instalar na entrada. O objectivo oficial é propiciar resguardo à sala e aos fumadores nos dias frios, o oficioso é pôr-me a vender sorrisos e rapa-pés aos clientes mais presunçosos. Chegas mal enrolado no teu sobretudo cinzento, um tanto a cair, e olhas, com um ostensivo esgar de despeito, para os 'patos-bravos' que atascam a entrada. Cumprimento-te com a frieza polida e treinada com que me reservo. Sempre, nas tuas palavras. E continuo a enunciar aliciantes da ementa ao Engº Ribeiro. Viras costas, podia contar-te uma vez mais a fábula da tartaruga e da lebre (interpretá-la-ias mal, de novo?). E, se calhar, saborear a nossa empada de lebre acompanhada por pontas de espargos verdes. Salteados. Fábula francesa por fábula francesa, hoje talvez fosse mais adequada a da raposa e das uvas.

L.

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