Tinham filetes de cherne com arroz de berbigão. Ela riu-se quando eu entrei. Lembrava-se do quanto eu adorava aquilo, porra! Ela lembrava-se! - este foi um porra da família dos aleluias. Sentei-me numa mesa que gosto, perto da janela, onde faz um recanto com uma temperatura mais alta. Comi com uma sofreguidão anormal, queria evidentemente mostrar gratidão com todas a glândulas que podia, infelizmente não era prato que desse para limpar, nem desenhar corações com o pão e o molho. Pedi apenas para me arranjarem um bocadinho mais de arroz. Quando ela mo trouxe parecia estar vestida de noiva com uma travessa de pétalas brancas na mão. Parecia mesmo; ainda agora me parece, mesmo depois de dois duches frios. Dizem que pára a digestão.
Vi-te chegar, o semblante fechado, um ar frio de desdém a fechar a porta atrás de ti. Escolheste a mesa ao sol, aquele sol pobre de fim de Inverno que sabe, como nenhum outro, doirar-te os contornos da íris num verde de relva molhada (Tirésias, ajuda-me!). Peixe, escolho eu por ti. Por tua escolha, mascarando o pequeno prazer pecaminoso que me dá adivinhar-te os desejos que julgo conhecer. Engoles a comida, pressinto uma urgência, queria que pedisses arroz doce, branco e suave como a espuma de uma onda. Pintá-lo-ia com canela, pequeninas argolas d'ouro escuro enlaçadas em corações. Como lenços d'amor minhotos, silenciosos embora. Latindo os corações.
L.
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