Os Diários Secretos de Facundo Macário Induvial [2]

Nestes excertos do diário secreto de FMI , que se começaram aqui a transcrever, é patente a sua ansiedade permanente por querer agradar a todos, e uma das personalidades que neles é muito referida é o moralista criativo Hélio Herpes da Costa, com quem FMI mantinha uma amizade decorada de acesas discussões sobre tudo, mas, sobretudo, sobre nada.

16 de Junho de 2028


Tive uma manhã bastante turbulenta por causa dum telefonema que recebi do Herpes da Costa. Ele insiste em que a sociedade é um todo e que deviam ser reduzidas ao mínimo as medidas de protecção selectiva como aquela que eu introduzi ontem ao admitir que as lojas do Pingo Doce recebessem a cobrança do iva em espécie, tendo como contrapartida o fornecimento gracioso de todos os frutos secos para as embaixadas portuguesas. Aborrecem-me estas incompreensões de base ideológica, e a L. diz-me, inclusivamente, que me fazem uma espécie de borbulhagem na zona lombar - eu até lhe respondi, para tentar desanuviar, que assim ela já tinha algo que coçar. Rematou-me logo, sem apreciar a piada, que o Herpes da Costa, com quem, estou convencido, namorou nos tempos do liceu, gosta muito de dar palpites sobre o que os outros devem fazer ou não, lembrei-me então de que quando ele liderou a 'comissão para o aumento da natalidade' as suas principais propostas foram reduzir a distribuição de preservativos apenas para a 5ª sexta feira do mês, e o projecto científico dos 'partos às 20 semanas'. Mas no fundo acho que até gosto do Herpes da Costa, e o que ainda nos rimos ao telefone quando ele me disse que conseguiu convencer um grupo de indianos a comprar-nos a estação do Oriente para servir de entreposto à exportação de pitons para o negócio dos suicídios de honra.
Hoje doem-me muito as pernas porque agora no ministério só há elevadores às quartas feiras. Felizmente era o dia de distribuição de cajus aos funcionários começados pela letra F. Adoro adormecer com esta sensação salgada na boca, faz-me lembrar os tempos em que ainda se podiam gastar recursos naturais a fazer batatas fritas de pacote. Como dizem os astroanatomistas: o céu está na boca.

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