Quinteto Lebensraum


Radimir Purovic tinha acabado de enviar uma bola ao poste, - leia-se à esquina da rua Pasterova com a Rua Deligradska - quando a sua mãe Maria Svinic o chamou para jantar. Radimir fingiu não ouvir, fez mais duas sessões de fintas a Raslo Simic que estava convalescente duma tuberculose, e quando chegou a casa levou com dois scuds de cotovelo que o deixaram de cama 15 dias. Recuperado da acção pedago-agressiva da progenitora, Radimir fugiu de casa, perto do centro de Belgrado, e apanhou a boleia dum furgão Bedford que o fez chegar alguns dias depois aos arredores de Stuttgard onde acabou por se salientar como médio interior direito no grupo desportivo duma empresa que fazia fresas para os pistons da mercedes.

Bruno Smolareck era ajudante de uma padaria em Legnica quando foi convidado por Hector Pinevski para se apresentar nos treinos do Dresden FC, que procurava um rapaz bom de mãos para substituir o seu guarda redes que fora apanhado na piscina com a filha de Zbigniev Lahm, precisamente o preparador físico do Dresden FC e que tinha reservado para a sua filha um lugar no grupo de franciscanas que dava assistência na Versoksunskirche. Avisado que doravante devia guardar as suas mãos e restantes apêndices do tronco para funções ligadas com a modalidade, Bruno incorporou a equipa, tendo porfiado e arrecadado.

Foi em boa hora que Frankisev Vrbata foi visto a roubar Herr Shuster que estava de visita turística a Plzen. Constatada a sua capacidade de se esquivar às forças de segurança checas, imediatamente foi contratado por Victor Schumann, olheiro do Fulda FC, que ia na sua terceira terrina de cerveja mas que até à quinta ainda conseguia pregar rasteiras, e que não hesitou em convencê-lo a optar por uma carreira de estremo esquerdo, através da qual poderia passar a festejar abanando as redes alemãs em vez de se lamentar roendo as grades checas.

Heirich Twardowski tinha iniciado a sua primeira semana como policia sinaleiro precisamente no cruzamento da Bogurodzici com a Kaszubska em pleno centro de Szczecin. Eram duas da tarde duma tarde chuvosa de Maio quando Thomas Haufmann, treinador adjunto dos juniores do Hamburgo, se distrai precisamente nesse cruzamento quando, ao seu lado, pára o renault clio de Martina Sirineva, acabadinha de fazer uns caracóis novos no salão de cabeleireiro de Zumira Kirkeva, uma Bielorussa estabelecida em Szczecin desde que Jaruselski prometera uma permanente (sem coloração) no Natal a cada polaca que descolasse mais de 200 cartazes do Solidariedade numa semana. Ora, quando Marina se lembrou de fazer o movimento vidalsasson, Herr Haufmaum foi acometido de reminiscências penosas duma namorada dinamarquesa que o tinha trocado no verão anterior por um electricista ucraniano e, não fora o movimento expedito e profissional de Heirich Twardowski a fazer virar o sentido do trânsito, hoje, o produto da combustão de Thomas Haufmann estaria a fazer depósito num vasilhame de grés de dupla cozedura. Ainda mal refeito do susto, Thomas ficou a apreciar a mestria de Twardowski a distribuir o trânsito pelas artérias venosas de Szczecin, qual autêntico Beckenbauer da Bogurodzici com a Kaszubska. Tal a impressão, que esperou o fim do turno de Heirich para o convidar de imediato a fazer provas como médio pivot do Hamburgo, equipa que jogava um futebol demasiado directo o que já lhe tinha feito perder o patrocínio dos aspiradores da Bosch e assim obrigado a vender duas promessas do ataque ao Borussia de Munchengladbach que garantira o patrocínio das batedeiras Moulinex à conta dum ponta direita especialista a fazer picadinho de defesas laterais com rins de pau santo.

Mesut Kutur Westermmann parecia um predestinado para tudo menos para defesa central. A mãe era fiadora em Izmir antes de ter emigrado para Munich onde acabou a bordar toalhas para a Oktoberfest, e o pai , com os dedos em forma de estrelas do mar, era ajudante de relojoaria em Zurich, especializado a contar dentes em rodas cremalheiras. Ou seja, duas pessoas delicadas acabaram por parir um mamífero de 1,95 m, possuidor de uma força de pernas que em movimento de swing mostravam tenacidades superiores a 5000 kn por cm2 , e que se não fossem as potentes influências da providência que lhe colocaram no caminho Per Wiese, acabaria a abastecer as prateleiras everesticas da secção de lacticínios do Lidl da Shleisheimer Strasse. Estava Herr Wiese de passagem por Munique quando lhe apeteceu um leitinho achocolatado. Ora este apresentava-se na zona de influência de Mesut que se apressou em lhe propor uma promoção de 6 pacotinhos pelo preço de 4 com oferta de 20 pontos no cartão família e, como se não bastasse a simpatia, ofereceu todo o seu corpulento dorso quando a prateleira começou a dar de si e a prestar vassalagem a newton. Perante tal demonstração de coragem, colocação e resistência Pier Wiese não pode perder a ocasião para aconselhar Mesut Westermann ao seu primo Friedrich Grass que procurava um armário para a defesa do Bayern.

E foi assim que a Bundesliga a certa altura viu coincidirem os alemães Radimir Purovic, Bruno Smolareck, Frankisev Vrbata, Heirich Twardowski e Mesut Kutur Westermmann, como estrelas dos respectivos clubes, e que, com toda a naturalidade, acabaram por construir o núcleo duro da selecção, - sem necessidade de anexações de territórios, nem de acordos de munique - e dominar o futebol germânico com a estrutura cristalina que aportavam à tática da equipa, mesmo que tivessem alguma dificuldade de comunicar entre si; ficou inclusivamente célebre uma troca de galhardetes durante o treino dum estágio no Piamonte : «Twardowski não te esqueças das compensações, senão o Kutur perde a noção do Vrbata em relação à desmarcação do Smolareck para as entrelinhas», ao que o primeiro respondeu, «eu quero é que o Smolareck vá Vrbatar no Kutur». Diálogo este que, como sabemos, não ficou indiferente ao galês de Versalhes Nicolas Analka, perdão Anelka.

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