Dona Dolores tinha um negócio seguro a crochetar adereços para os paneleiros veraneantes de Sitges quando foi obrigada a socorrer o neto, Xavi Ermengol, que tinha sido dispensado dos juniores do Barcelona e que voltara a viver na mandriagem, sacando dinheiro às turistas, e proxenetanto um pouco aqui e acolá.
Numa tarde em que dona Dolores dava um belo sermão a Xavi enquanto bordava dois pequenos naperons para o enxoval de Lola e Marisa, este reparou que a forma de fluir do fio entre agulhas praticado pela sua avó poderia ser revelador duma nova forma de fazer deslocar o jogo na faixa central. Movido por um movimento inspirativo dirigiu-se imediatamente para o centro de estágios, onde se apresentou como detentor duma táctica revolucionária que se aplicaria tanto ao esquema do losango, como ao esquema dos dois pivôs defensivos em vai-vem, como no próprio esquema do tudo en revuelto.
Sergi Alonso, que tinha sido seu treinador dos juvenis, desde os tempos em que ouvira Cruift a dizer que o mais importante numa táctica era ter os olhos bem abertos e as pernas bem fechadas, que não presenciara uma dissertação tão luminosa e ainda para mais vinda dum rapazolas que ainda no dia anterior lhe tinha arranjado duas dominicanas para brincar às enfermeiras.
Recuperada a sua posição de médio interior esquerdo na equipa de reservas, rapidamente Xavi começou a dar nas vistas com o seu colega de losango, precisamente Andres Ramos, um ex-ciclista de circo, com o qual combinava séries mínimas de 300 passes sucessivos em esquema carrossel sem sair dum raio de 10 metros e que só paravam depois dos jogadores adversários terem dito 20 vezes «cabrones-hijos-de-puta-chupamos-aquí».
Depois de duas equipas adversárias terem sido apanhadas por um surto de torcicolos, Xavi e Andres, juntamente com Jesus Torres, (conhecido por afastar os defesas com uma simulação de anca que tinha aprendido com Marcia Soler num cabaret em Valência) foram incorporados na equipa principal onde se encontraram com Joan Hernandez, um esquerdino irrequieto que já de si também gostava de fazer crochet aos defesas laterais com a sua famosa 'finta-caranguejo', e não fora o estrabismo assim adquirido teria logrado fazer a campanha dos desodorizantes Rexona em roll-on sem alcool.
Foi assim com naturalidade que, em conjunto com Gerard Navas, iniciaram o movimento futebolístico que ficou conhecido como o 'método correntinha'. A inclusão de Gerard neste processo do pós-modernismo-táctico não é alheia ao facto de Gerard desde pequeno ter ajudado a sua avó, uma mulher rija de Gijon (não dizer muito depressa por favor), a fazer tranças de cebola que depois vendia num mercado em San Sebastian com o avô, o sr Gustav, um acordeonista amador de Segóvia, homem de poucas falas mas de assobio e álgebras fáceis.
O 'método correntinha' aliado às entradas dos laterais pelas faixas utilizando a 'variante rococó' tornou o futebol espanhol uma autêntica tapeçaria chinesa e foi rapidamente incorporado como o método oficial da selecção nacional, substituindo a anterior táctica da 'fúria espanhola' que afinal nunca tinha passado duma invencível armada com os pintelhinhos tremelicando aos lábios virginais da deusa Tamisa.
Durante as pausas dos estágios, Xavi, Gerard, Joan & sus muchachos, treinavam afincadamente pelerines com as famosas agulhas 4.0 da Clover, e antes de adormecer faziam sempre dois ou três jogos mikado aproveitando as KnitPro Symphonie Wood, sendo que quem perdesse estava obrigado a fazer dois passes de ruptura nos primeiros 15 minutos do desafio seguinte. Ficaram inclusivamente célebres os pequenos cachecóis de Jaime Pujol, um neófito dentro do 'movimento correntinha' mas que rapidamente começou a fazer parte do núcleo duro pois tinha qualidades ímpares na ocupação dos espaços vazios, algo que provavelmente tinha herdado da sua avó Carmen Gutierres que trabalhara durante a guerra civil em Saragoça, na esquina da calle de Santa cruz com a calle de Viena, a vender churros envenenados a republicanos; olé.
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