Achillea millefolium

Phil Perry era o fiel lubrificador da espada de oiro de Francis Drake. Zeloso, permitia que Sir Francis desembainhasse a famosa arma com uma velocidade aterrorizante. Foi compensado com várias terras no Sussex e muitos anos depois um descendente seu acabaria por ser o guardador de cabeleiras de Sir Robert Walpole, e inclusive, diz-se, montava-lhe as molduras dos Canalettos, o que fez com que o 1º ministro lhe oferecesse uma pequena propriedade na zona de Notingham para que ele se pudesse abastecer de madeira em condições, em vez dos ramos manhosos de figueira importados de Itália que usara nos primeiros quadros. Foi assim com naturalidade que um trisneto seu se afirmou como o fornecedor oficial de bengalas da casa real na fase de arranque dos Saxe-Coburgos, tradição essa que só foi quebrada quando John Perry, seu neto, acompanhou Chamberlain no tempo dos acordos de Munique como fornecedor de ansiolíticos em unidose. Desta insigne genealogia haveria de surgir John Perry III que se revelou um médio de ataque consistente e pouco atreito a lesões, tirando um furúnculo resistente na zona alta da coxa esquerda que haveria de lhe conferir um toque curioso na corrida, semelhante ao de uma avestruz com vaginite.

Louis Rampard fora o fornecedor de tinta permanente a Cromwell enquanto este conspirava contra Tomas More e dessa forma garantiu um posto de chefe de pigmentação na olaria principal dos arredores de Coventry. Muitos anos depois um descendente seu haveria de se salientar na guerra da Crimeia fazendo pinturas de guerra aos soldados turcos que afugentavam os russos por estas lhes fazerem lembrar a língua de Tamerlão após comer um arroz de lebre em cabidela. Não foi então de estranhar que um novo membro da casta dos Rampards chegasse a decorador de roupões de Churchill, que jamais fazia um discurso sem primeiro se aconselhar com Frank Rampard, como, por exemplo, se o motivo dos pavões não seria demasiado excessivo para acompanhar a exortação à debandada do corpo expedicionário. É já com Brejnev a fazer palavras cruzadas com Estaline que nasce Frank Rampard III, que se haveria de revelar um defesa direito de eleição, conhecido por ameaçar os defesa contrários com tatuagens de franceses e alemães a dormirem com as suas mulheres.

Sam Johnson tirara uns dias para tratar das unhas dos pés quando Ana Bolena o convida para rezar o terço às escondidas. Inicia-se assim uma carreira mística que só termina quando uma aia com a qual tinha trocado impressões espermatozais lhe garantiu sentir células em movimento numa zona do corpo anteriormente destinada à fermentação química. Dessa fecundação in coito foram-se multiplicando gerações de predestinados para a multiplicação de células pelo que não foi de estranhar que o gene Johnson aparecesse ligado ao fornecimento de graxa para cabelo a Disraeli, negócio que haveria de garantir sustento e segurança à família que agora se poderia então dedicar a procriações mais sóbrias. A distinção e pedigree que se foi instalando com o negócio de aditivos para cabelo permitiu a Ken Johnson incluir na sua lista de clientes Margaret Tatcher que usava uma laca produzida à base de caspa de juba de leoa do Zimbabué. É neste berço de gel's e amaciadores que nasce Ken Johnson III que se haveria de destacar como ponta esquerdo do Birmingam, graças a um penteado inspirado na vertente nordeste do Annapurna e a uma finta com rotação para o interior seguida de centro tenso para o segundo poste.

David Mooney um devoto pastor anglicano de Leeds ficou afamado por ter ajudado John Knox a ler a Bíblia sem a ajuda do dedinho a acompanhar as linhas. Como reconhecimento, Knox recomendou Mooney a Elisabeth I que lhe destinou a orientação da catequese aos filhos ilegítimos das aias. Sempre cioso das suas obrigações David foi granjeando admiração e naturalmente foi ganhando influência obtendo, inclusivamente, algum ascendente moral sobre cozinheiras, pajens e floristas. Quando lhe nasceu a primeira filha, Louise, que aparentava ser filha duma coluna de som, teve de socorrer-se dessa influência para a conseguir casar com Jeremy, fatiador-ajudante de bacon da casa de York, um rapaz sem apelido e que aceitou a marca dos Mooney com gratidão, ao que não era alheio ter menos três dedos na mão esquerda, e uma marreca com o feitio do golfo da Biscaia. É no seio dessa união de interesses, polvilhada aqui e acolá por um carinho mútuo, que nasce Wayne Mooney que se viria a revelar um desbastador de buxo de altíssima qualidade, que chegou a esculpir três pilas num jardim de Elton John em apenas uma hora, e que viria a ser o avô de Wayne Mooney III, um médio-distribuidor de jogo que rapidamente se tornou célebre pelas desmarcações para as costas dos adversários, mantendo sempre um ar sereno de como se estivesse apenas a procurar joaninhas junto à bandeirola de canto.

É assim nesta linha de tradição que se forjou o quadrado mais célebre da selecção inglesa, Mooney, Johnson, Rampard e Perry, forjados naquela mistura de celtas, bretões, normandos e saxões, que lhes comunicava uma combinação impar de dinamismo e força, de raiva e cérebro, de sangue e suor, de joelho e sovaco. Olhavam para trás e antes de verem um fora de jogo ou uma ocupação de espaço vazio viam sempre um passado ancestral rico, iluminado com fio e pavio, povoado de honra, glória, pescoços tombados, potências e impotências várias, e uma ou outra tripa a esvoaçar. O que o futebol tem para ensinar à História é que se deve transportar sempre de forma muito controlada o que vai entre as pernas.

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