O primeiro ataque sério de remorsos deu-se quando lhe serviram lulas estufadas num restaurante ao Príncipe Real. Tinha sido com um prato de lulas que roubara o defunto a uma amiga sua com quem ele namorava. Nesse momento viu que seria o defunto-da-sua-vida, e não seria avisado deixar a coisa nas mãos duma providência que forçosamente poderia não saber cozinhar. Foi directa e resoluta no primeiro passo, assim como o seria também no último, se bem que neste se tenha socorrido do croquete-de-estimação como se sabe. O remorso é um estado de alma sempre passageiro, uma espécie de cólica que se alivia com o primeiro espasmo disponível. Este curou-o com mais uma ida à sapataria. Os sempre presentes sapatos. Loiras ou morenas, solteiras ou viúvas, altas ou atarracadas, deficientemente-fodidas ou rainhas do kamasutra, todas se reclinam perante os cantos de sereia destas albardas das extremidades inferiores. Mesmo não sendo nos pés onde uma viúva coloca os maiores propósitos na sua caminhada para o alegramento, foi curado o primeiro remorso com umas sandálias dignas de Alcatraz, e assim partiu para o roçar-de-pernas num sub-table dance com um ex-colega da catequese, procurando pelo menos que se rentabilizasse a depilação laser paga com o subsídio de funeral. Cada novo amante deveria obedecer a um rigoroso plano de negócios. O defunto não lhe perdoaria nem o esbanjamento, nem o improviso.
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