Todas as mulheres devidamente casadas passam pela mais ou menos sub-reptícia tentação de matar o marido, ou então que alguém o mate por elas. A viuvez é o estado feminino mais perfeito: tudo revelado e tudo escondido, pleno de disponibilidade e pleno de submissão. Ela sabia isso e não tinha enjeitado o primeiro momento em que se tinham associado os primados da coragem e da racionalidade. Era por isso uma mulher viúva e realizada nesta fase da sua vida; não era apenas um género de nova vida para viver, era mesmo um estado de felicidade que conseguira alcançar mais cedo do que a mera natureza lhe propunha entregar. As fotografias do defunto estavam nos lugares estratégicos, todos os odores que poderiam cumprir uma função reminiscente tinham sido expurgados e, obviamente, os cortinados eram novos. Nada simboliza mais a liberdade para uma mulher viúva do que uns cortinados novos. Quanto aos sofás e aos tapetes, bem isso ela logo veria, - dependeria da utilização futura -estavam como novos pois o defunto era um homem mais de cama, sorte a dele, pensava ela, pois nunca se sabe qual a serventia duma boa coluna por entre as agruras dum purgatório em fase posterior à da ressurreição da carne. A cozinha deixou de lhe interessar como elemento prático. Seria uma frequentadora de restaurantes. Nenhuma viúva se pode alegrar comendo em casa.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário