Viúva-alegre #3

De memória rasa e conta bancária bojuda decidiu fazer uma pequena viagem comercial dedicada ao guarda-roupa. Passaria rapidamente do negro para os cinzentos-escuros e progressivamente iria introduzindo uns verdes secos e uns grenás. Na Primavera já estaria pronta para se alaranjar no seu novo estatuto civil e, por que não dizê-lo, sentimental. De qualquer modo todos os dias rezaria uma ave-maria pelo defunto, - isso fora uma promessa solene que fizera enquanto desenroscava a tampa do frasco de veneno - à que inclusivamente juntaria uma novena durante os primeiros dias de todos os Setembros, envergando sempre um véu negro de renda comprado nuns saldos das galerias Lafayete. Homem novo calculou que só voltaria a experimentar lá mais pelo verão, quando os dias fossem maiores e os riscos de que as libidinosas noites se lhe atravessassem inesperadamente pelo caminho fossem mais reduzidos. Para além disso por essa altura já poderia apresentar sem criar especial escândalo uma roupa mais justa à carne; e sabe-se como o folgazão desejo dos homens é muito sensível à roupa justa. O exagero de despesa em lingerie tratava-se de desperdício pois quando eles chegassem a esse ponto de focagem já estariam perfeitamente dominados. Seria bastante mais bem empregue o dinheiro a tratar das pernas. Lipoaspirou, drenou e esfoliou como se o futuro da humanidade dependesse do estado das suas coxas. O primeiro solstício já seria festejado com uma minisaia em tons de azul-turquesa.

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