Moonfolk

Margot era uma aquariana, guitarrista duma banda do chamado pop alternativo, mas onde o alternativo significava que alternava entre um estilo durutti column e um estilo arcade fire (um ex-namorado caranguejo era violinista), ou seja, como pura aquariana, tentava disfarçar a sua férrea vontade de tudo controlar sem que ninguém desse conta, com uma – totalmente planeada – pendular variação de estilos.
Certo dia, um baterista capricórnio, de seu nome Henri, - mas um Capricórnio de fim de fase, a acenar a aquário - apresentou-se querendo integrar a banda, trazendo no seu curriculum dois solos num concerto de Beck em Birmingam. Margot, justificadamente à defesa – a forma aquarianamente mitigada de calculismo -, levou à consideração da nossa cartomante Miriam a hipótese de integração de Henri. Aliás, acabou mesmo por ficar conhecido como ‘A hipótese Henri’ o estudo que Miriam desenvolveu para analisar os processos de passagem de Capricórnio para Aquário. Miriam começou a lançar cartas numa sexta-feira de lua quase cheia e, pode dizer-se, - ainda estava nos seus anos de graça - com elevadas esperanças que se vieram a confirmar. Inesperadamente saem de seguida dois noves de paus. Ora o nove de paus significava, no elaboradíssimo sistema de Miriam, uma forte tendência para a fusão de elementos, ou seja, Margot se aceitasse Henri como baterista poderia ter de colocá-lo a cantar ou a tocar saxofone pouco tempo depois, ou seja, a perder o controlo. Margot aceitou o desafio, dando um irritante sinal de resignação, outra marca aquariana e toda ela uma pura mutação da obstinação capricorniana.
Margot e Henri arrancaram então com uma série de concertos (entretanto o ex-namorado caranguejo, previsivelmente, foi incapaz de aceitar um novo membro na banda e recolheu para um convento em Waterford, na Irlanda) e no final da tournée casaram-se pelo ritual ortodoxo por questões meramente estéticas. Miriam foi a madrinha e nesse dia escreveu no seu diário: ‘meu Deus, dai-me mais noves de paus e eu transformarei o mundo’.
Depois do casamento, Margot, tentando explorar ao máximo a voz de encantador de serpentes de Henri, – os aquarianos usam a voz como elemento estruturalmente erótico, uma espécie de preliminar permanente – procurou encostar-se mais ao registo divine comedy, o que a levou a começar a sentir falta dum piano. Miriam, depois de lhe terem saído dois valetes de copas, recomendou-lhe, contra todas as expectativas, um pianista leão. Ora todo o aquariano tem uma exacerbada obsessão pela fenilidade, e Margot até disse para consigo, mais arrepiante que isto que isto só sair-me outro caranguejo (signo para o qual Miriam lhe tinha até recomendado uma pomada repelente muito boa, à base de extractos de cactos do Egipto). Mas Margot, com a sua medula aquariana, não queria arriscar e entregou o piano a um belga simpático, que acabou por nunca lhe dar problemas, de tal forma que até teve de lhe arranjar alguns defeitos artificiais, não fora Henri ainda ser tomado por ataques de ciúmes.
Tudo corria bem até que um dia Henri, esticando a corda, declara solenemente: isto está a tomar os caminhos bolorentos da folk. Como já todos deviam saber – mas Miriam não tinha estudado o caso com a profundidade necessária - os aquarianos cansam-se com o som da guitarra e deslumbram-se com o som do piano. Henri já não podia com o dedilhar incansável de Margot, fazendo a guitarra parecer-se com um xilofone, se fosse para aquilo mais valia ter casado com uma baladeira acústica. Margot, indignada, o aquariano indigna-se sempre com algum estilo, não suportou a desconsideração de Henri, despediu-o – nunca tinha perdido o controlo do grupo, mesmo parecendo ter dado a liderança a Henri - e foi para a Irlanda no primeiro ferry-boat. At the end of the day, apenas um eterno incompreendido sabe compreender.

4 comentários:

Xador disse...

Muito Obrigado. Muito me é contado! Roubando despudoradamente a personagem a este ecran (que só aparentemente não tem movimento) haveria ainda de saber como casam os elementos do zoddíaco: a. água com água; b. água com terra; c. ar com fogo; d. fogo com ar e last but not least e. ar com terra e terra com ar. Isto seria ainda mais interessante apurar! Que tal?

aj disse...

isso é q já me parece muita copa para a minha cartomancia...

Anónimo disse...

Que tal montar uma banquinha de astrólogo, com bola de cristal e tudo? Talvez assim o sr satisfizesse a Xador IV (ou será «o» Xador, já que agradece no masculino?) e ainda averbasse uns trocos pª o capilé, lá pelos lados de Pedrouços.

aj disse...

eu com os astros baralho-me muito, qem me tira as copas e o paus tira-me tudo