A papelaria chamava-se ‘Sonho de Luz’ e estava a abrir. Era muito cedo e a sua clientela fixa ainda não começara a chegar. Ele foi o primeiro cliente. Vinha com um papel dobrado na mão com três números escritos. Abria-o e voltava a dobrá-lo. Intercalava com mordidelas de lábio cada vez mais prolongadas. Via-se que olhava para as capas das revistas e para os títulos sem os fixar, ou melhor, sabendo que não encontraria lá o que queria. Parecia preocupado, quase perdido. Mas também não encontrava tudo o que precisava naquele papel. Ela entrou pouco tempo depois. Dum envelope tirou um cartão. Mais números. Ela nem para os jornais olhava, mas a sua mão tremia enquanto segurava no cartão. O dono da papelaria estava atarefado e não dava conta, ia apenas pedindo-lhes delicadamente para não o atrapalharem no meio da loja. Encostaram-se os dois no balcão ao mesmo tempo, apoiando apenas os punhos e como que à espera que um raio lhes abanasse o corpo. Cada um com o seu berço de números na mão. A certa altura os papéis juntaram-se. Magnetismo na papelaria. E revelou-se uma série de 6 números. Já tudo fazia sentido. Chamaram rapidamente o dono da loja. Ele deu-lhes os parabéns e perguntou o que iriam fazer a tanto dinheiro. Pouco mais sei.
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