Da tenda das farturas fumegava a nuvem com o melhor cheiro do mundo. Mas a feira estava ainda nas suas horas mortas. Numa roullote ao lado, onde a porcaria e a ferrugem eram rauchenberguinamente promovidas, prometiam-se leituras de mãos. Ela tinha acabado de se sentar junto da cigana quando Ele se começou a aproximar. Abrandou então progressivamente o passo, mas com a sua bomba cardíaca já ligada no máximo e o sonar em posição de combate; - «a menina hoje vai apaixonar-se», arrancou logo a cigana - o seu andar revelava a hesitação da alta espionagem, - «por um homem que nunca viu antes» - serpenteando entre os poucos e tímidos comedores de algodão doce fora d’horas, - «e não vai perceber porquê» - mas de repente o corpo autonomizou-se, - «nem vai conseguir resistir-lhe» - avançou movido a pólvora fresca, - «pela primeira e última vez na vida vai ter uma certeza absoluta» - com o olhar feito culatra, - «mas vai ser ele a agarrá-la» - e engatilhou-a. A cigana não teve tempo de passar recibo, nem de desejar felicidades. Pouco mais sei.
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