Era o dia da inauguração da exposição de Pierre Soulages. Muita excitação na sala. Ela andava sem eira nem beira; com um copo de martini na mão, só para ter as mãos ocupadas. Tinha saído dum grupo que falava de férias na Martinica e passara de raspão por um outro que falava da fotogenia de Leonardo de Caprio. Nada a satisfazia. Ainda só passara pelas pinturas ao de leve. Ele estava bloqueado num quadro das séries mais traçadas, mais ‘caligráficas’. Via-se que não arranjava a posição certa para ver os quadros, parecia que tinha até de fazer alguma ginástica para os apanhar. Dava um bocado nas vistas. Ela não resistiu e pôs-se ao lado dele. Sem saber porquê, poisou o copo e começou a imitar-lhe os gestos, as coreografias do corpo. Inesperadamente confirmou que certos quadros se viam melhor de esguelha. Ele reparou. Chamou-a. Abraçou-a. Inclinou-a. Pôs-lhe a mão entre as pernas. Levantou-lhe os pés do chão. E voaram só com o olhar. Dizia-se que pareceram anjos. Pouco mais sei.
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