A lavandaria chamava-se ‘Alfazema ao luar’, um nome romântico mas dalguma forma ridículo para uma lavandaria a seco. Ela esperava duas calças pretas, uma de linho e outra de algodão, e ele esperava duas calças cinzentas escuras de lã. Era uma espera que parecia mesmo pedir alguma impaciência, mas ambos se mostravam calmos e sem pressas. Nenhum bufava, nenhum tamborilava dedos no balcão, nenhum fingia ler mensagens no telemóvel, nenhum fingia fazer contas de cabeça, nenhum coçava nada que fosse para além do óbvio. As calças chegaram, foram entregues, e recepcionadas, com uma destreza mecânica e profissional. Encaminharam-se juntos para o elevador que levava ao estacionamento, mostrando apenas aquela proximidade que une dois seres do mesmo sistema solar e que controlam mutuamente as rotas de translação. Mas as calças estavam trocadas e repararam nisso em simultâneo. Previsivelmente dariam um sorriso, uma gargalhada até. Mas não. Fizeram apenas aquele levantar de sobrancelhas que ilustra o espanto e, como que tivessem ambos a chave de todas as decifrações, e já o soubessem de antemão, puseram tudo num mesmo saco, alugaram uma furgoneta e foram treinar pores-do-sol para uma praia de nudistas. Pouco mais sei.
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