Os tempos mais recentes ficaram marcados por duas polémicas sobre contentores: a das aulas para os ciganos em Barcelos, e a sempre-eterna do terminal de contentores do porto de Lisboa. Em qualquer dos casos transparece alguma sub-valorização da figura do contentor, que já não tinha boa fama desde que Melanie Klein se lembrou de lhe sacar o poder metafórico para as suas teorias de alavanca infanto-mamária, se me é permitido assim expressar. Ora o contentor – como se pode observar aqui, ou aqui, ou aqui, a mero título de exemplo (há milhares de merdas destas) – não merece. Para além de vos puder contar dezenas de coisas que se podem fazer num contentor – como se constatar aqui, ou aqui, ainda também apenas a título de exemplo – julgo ser importante voltar a dignificar o contentor e jamais deixar que ele fique ligado a este período de tanga da nossa história. O contentor é inequivocamente uma marca da nossa civilização e, para além disso, assume-se como o parente pobre do novo demo que é a globalização. Nem sei inclusive como é que ele escapou a uma referência critica na nova encíclica, que a Santa Madre Igreja me desculpe esta pequena graçola. Parece-me assim um desafio para todos nós trazer o contentor para o lugar que ele merece, recuperar de novo o contentor para o coração de todos nós. Esta situação tem-me deixado inclusive desgostoso, pois tudo indica que estamos à espera que haja um escândalo dentro dum contentor (género apanhar dentro dum a dupla Sanfona & Melo a fazerem aviõezinhos de papel como a fotografia de Constâncio) para que este ainda sirva de agente sublimador dos nossos complexos.
No entanto, interpreto estes acontecimentos como um sinal. Um sinal da história do nosso imaginário. Afinal a tanga não passava dum fase passageira, duma espécie de antecâmara da verdadeira viragem histórica. A nação-contentor, o país que nunca teve infância, nunca teve sequer a idade do armário, entrou definitivamente na fase terminal : queremos que alguém nos leve e guarde, nos deixe sossegadinhos uns ao pé dos outros, sem nos pedir para mexer muito e, e se quiserem alguma coisa de nós, encham-nos de mimos e peguem-nos ao colinho. Estamos feitos para guardar recordações, - somos afinal um país com história - e, se pedirem com jeitinho, podemos distribui-las pelo mundo fora a preço de chinês. Com ou sem corninhos.
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