Hoje uma das mesas corridas estava ocupada com um grupo de amigos de L. Quando entrei ela estava sentada nessa mesa, num canto, mas, para todos os efeitos, sentada na mesa. Por isso, ceguei; nem percebi se havia sequer mais alguma outra mesa no restaurante. E ela ria-se, ria-se, ria-se como nunca a tinha visto. Pedi arroz de pato, tendo sido o único critério: algo que se pode comer sem sequer olhar, e tem um sabor tão banal e constante que não merece qualquer atenção especial. Refira-se que ela até se levantou para me vir atender, mas eu parecia uma mula empalada. Felizmente essa mesa cancerosa estava no meu perfeito ângulo de visão, e para sobreviver ao almoço não tive de parecer um lançador do peso. Eram todos tipos com aquele interesse plastificado: temas óbvios e reacções óbvias; aculturados ao sabor das pousadas de Portugal e da Easyjet. Todos produziriam, quando lá chegassem, meias idades de panfleto do BES. Eram, são, os amigos de L. É obviamente mentira que se escolhem os amigos. Escolhem-se tanto os amigos como o fornecedor de televisão por cabo. Só tomei café; «traga-me já dois»; «e um bocado de pão e manteiga» - tinha-me até esquecido que já almoçara. Apenas o ciúme arrasa com o tempo. Mas apenas o ciúme consegue dar sentido à ausência de tempo. L. mostrou-se especialmente solicita comigo, e até se riu quando, de forma ostensiva, saí sem me despedir. Será o homem um animal preparado para amar?
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