Estive então vários dias sem ver L. no restaurante - nem em qualquer outro sítio, se adoptarmos a concepção de que a memória e a imaginação não têm direito a lugar. O primeiro dia em que a vi novamente, ontem, foi demasiado intenso para ser contado. È como tentar contar a história do centro da circunferência. É tão central, tão óbvio, que não se consegue dizer nada. Hoje estava uma casa fraca. È muito instável de freguesia. O prato do dia, bola de carne, talvez não seja alheio a isso. L. descobriu que eu odeio bola de carne; só não sabe que eu detesto comer em geral. Não é tanto a comida, é mesmo comer. Podia dizer que hoje foi um dia normal. Normal é um estado muito mal compreendido: normal nunca é entendido como normal apenas. Comi uma tarte de cogumelos que a cozinheira algumas vezes faz. Pareceu-me que L. ficou contente por eu ter escolhido isso. E eu fiquei feliz por ela ter ficado, ou pelo menos ter parecido ficar, contente. Não comi sobremesa nem café, e saí à pressa, algo indefinível entre o inquieto e o desanimado. Mas a calma não é a minha praia. Porque será que não suportamos bem a normalidade?
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