Casa cheia. Cheiíssima. Pela primeira vez não havia mesa livre. Eu nunca reservo. Reservar é uma demonstração de fraqueza; planear é uma fragilidade. Mas improvisar é uma selvajaria; e eu agora sentia-me na selva. Que iria L. fazer. Viu-me. Ficou nervosa. Não tinha uma resposta imediata. Desapareceu por uns segundos e depois dirigiu-se a mim. Rezei para que me demonstrasse alguma intimidade. Não pedi um beijo, claro, isso seria ao nível de afastar as águas do mar vermelho a Moisés. «Hoje há frango na púcara; é um instantinho» E, acto contínuo, serve-me uma taça com champanhe, que trazia dissimulada atrás das costas, acompanhada dum sorriso com sabor a morangos. Fiquei que nem pastorinho em Maio à beira duma azinheira. Ela é a filha do dono do restaurante, pode tomar assim algumas liberalidades. ‘Ave, ó cheia de graça, my name is Angel Gabriel, e tu serás feliz para sempre comigo’. Quando me sentei ainda me tremiam as pernas. Felizmente nem foi preciso pedir. Comi o frango na púcara sentindo-me um pavão no paraíso. No final do almoço ela sentou-se na minha mesa, suspirou de cansaço, e disse-me: ‘não demorou muito tempo, pois não’. Um dia explico-lhe o que é o tempo. Será que pode ser Natal na Primavera?
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