J. é um tipo que faz imenso sucesso com as mulheres. Hoje foi comigo lá almoçar; aquilo é-lhe natural, acho que ele nem precisa de se esforçar. Tem um físico banal, um aspecto banal, uma cultura banal, um paleio banal; mas não há mulher com o certificado de hormonas em dia que lhe resista. Já estão a ver: fui fazer outro teste a L. Neste jogo da paixão amorosa de vez em quando fazemos de bichinhos de laboratório; faz parte. Esperei para ver o que ele escolhia, e qual a reacção dela. Como de costume ele teve de fazer o número do ‘que me recomenda’. Ela riu-se. Até dá raiva. Sorrisos daqueles só lhe cacei duas ou três vezes. Penso que ela só está a fazer-se de simpática porque ele está comigo. Os poetas já explicaram esta coisa do amor ser cego. Ele escolhe cozido, deixando no ar aquele sentimento de que se pôs nas mãos dela. Sacana. Eu, ainda com menos fome naquele dia, refugio-me nos filetes. Penso que já disse, os filetes dão aquele ar de que ‘somos da casa’; e assim enviei-lhe uma mensagem através da ementa: «ok, distrai-te um bocadinho com ele, mas lembra-te que és minha e eu sou teu». Não há gesto dela, palavra dela, abanar de rabo dela ao pé dele que eu não tenha microfilmado. ‘Agora hei-de confirmar se ela também faz isto comigo’ repeti em regime de massacre de consciência até à sobremesa. Hoje não foi um almoço, foi uma batalha. Serei mesmo parvo?
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