Mas Adozinda Cruz já me parece um bom nome
Aqui para nós, não me cativa especialmente o que as pessoas pensam em concreto, e é até muitas vezes um critério bastante mais fiável para mim se os nomes delas caiem bem na verdadeira dinâmica da vida, que é a dinâmica do paleio, ou se me põem a língua em risco de ficar presa com alguma cãibra; é aliás essa a especial razão do fraco sucesso que fazem os Nietzsches e os Kierkegaardes, por exemplo, e da pouca influência que qualquer um deles tem, efectivamente, no coração dos homens, algo que está bem patente no facto de não se lhes ter sido dedicado nenhum prato de bacalhau, bem diferente do que aconteceu, por exemplo, com o Mr. Brás ou o Mr Pipo. Ora foi esta regra básica de bom senso que sempre me afastou dum tal de Sloterdijk, mas tenho de reconhecer que um momento de fraqueza me fez recentemente tomar contacto com essa figura, e não foi em nenhuma salada, nem num molho de barbeque: foi mesmo num cabrão dum livro. Comprado ao calhas e lido ao calhas, fodendo-me progressivamente a curiosidade que nem uma broca diamante, e estando eu bem consciente que ao soletrar o nome desse gajo me aproximarei duma velha atropelada por um comboio, de placa rachada, e em ressaca da terapia da fala a pedir um saco de amêndoas recheadas no lidl. Comecei descontraidamente pela página 38 (reparem que nas páginas 38 nunca aconteceu de certezinha rigorosamente nada de especial até à fusão entre Sloterdijk e a paginadora da Relógio de Água) só que nesta página 38 o supra referido Sloterdijk – até a dedilhar isto estou mais hesitante que a escolher o programa certo da máquina de lavar loiça – delibera que se a sabedoria de Shakespeare (ora aí está um nome bom de amanhar) for de fiar, «o homem, graças à sua cobardia, é o ser no qual o infortúnio amadurece», o que, diga-se, é uma ideia boa de mais para estar numa página 38. Pensava eu que se tratava dum mero acaso, e preparava-me para saltar para uma página 79 quando, de relance e ainda meio desfocado pelas filhas da puta das lentes que devem ser de contrabando, constato que o gajo a quem a mãe em vez de lhe arranjar um diminutivo carinhoso parece que lhe arranjou um aumentativo, escreve como quem não quer a coisa que «a fuga na paciência e na contenção é, também, juntamente com a fuga para um devir futuro, uma resposta-protótipo dos homens às crescentes adversidades da situação mundial». Calma; o Sloter, Sloterdijk para os amigos, em primeiro lugar, aconselha calma.
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Sloterdijk
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