E acho que vai sair um disco novo dos Guillemots, mas não auguro nada de bom.

A estética do abandono é das que têm maior potencial. Em primeiro lugar porque quando alguém nos deixa, nos põe de lado, quando começamos a fazer de pickles ou mortadela no bitoque, cria-se um estado de espírito melancólico que catapulta o ser para o seu interior, género implosão mas sem tanto pó. Ora um ser quando está no seu interior, oficialmente virado para as suas coisinhas, tricotando a essência das coisas sem perder tempo com as miudezas da validade dos iogurtes, entra num torpor praticamente quântico-religioso, ou seja, até os protões adormecem nas palhinhas dos neutrões, que nem meninos jesuzes. Esse estado de entrega da alma ao seu destino e, subjectiva, imanência, permite que, e de mão dada com o corpo, se desprendam de todos os princípios da sociabilidade e remete-os para o seu estado natural entre o ‘vão-se todos foder’ e o ‘melhor só a fazerem-me cócegas no couro cabeludo’. Um homem abandonado é, pois, tecnicamente um homem apenas entregue à sua felicidade, e, necessariamente, um homem destinado a contemplar e ser contemplado, algo que lhe estaria completamente fora do alcance se tivesse a maçada de ser peluche de companhia ou mesmo de desejo. O melancólico desterro, esse voto de desinteresse a que todos temos direito, essa maratona olímpica da solidão de borda de prato, é um bem que, ao ser alcançado, faz parecer o prazer do amor correspondido um mero jogo de playstation.

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