E o que eu me esforço para ser um ‘crente badalhoco’

Antes de mais segue uma resenha gamada de várias tiradas duma deliciosa troca de comentários em sede de caixa dos respectivos no ‘Cocanha’, entre Zazie e Francisco Burnay

«Mas eu gosto de ateus que percebem que o realismo é uma pobreza de espírito»

«Já morreram demasiados velhos sem ver o mar para eu pensar que tenho tempo.»


«creio que os crentes preferem o desafio de um ateu que de um crente sem problema religioso»

«Um ateu militante precisa de ter muito mais espiritualidade que uma crença mansa»

«esse estádio semi-animal sem precisar de racionalização e domesticação, para aperfeiçoamento da alma, nunca durou muito como doutrina»

«O "semi-cristianismo", desde que culturalmente fundamentado, não é badalhoco. O panteísmo pensado também não é badalhoco (um panteísta conta como cristão-fraco? Isso é pertinente para as estatísticas).

«No dia em que deixassem de andar à boleia à custa do cristianismo e ficassem em pé de igualdade laica com tudo o resto, eram submersos pela macumba africana»


O conceito de ‘crença badalhoca’ é óptimo. Os espécimes do ramo católico apostólico romano como eu, que alimentam o sonho de viver eternamente ali no triângulo ‘filho pródigo – bom ladrão – samaritana’ ( eu a este junto-lhe a minha maior ansiedade particular: que música haverei de trautear na bicha para a comunhão – agora ando numa fase claramente shins-lullabylica) sempre tiveram como maior ambição conciliar a ortodoxia que os enquadra, com a irreverência que os anima, na busca do pecado perdido, na vertigem da reconciliação mais anabolizante. Qualquer católico que se preze deve olhar para a doutrina como uma das maravilhas da humanidade, e, por isso, como qualquer tipo que passe os dias a correr entre um taj mahal, uma torre eiffel e uma mesquita azul, no fim do dia quer é alguém que lhe massaje os pézinhos com a pomadinha mais etilizante do universo. Se há gajo que está mais do que convencido da enorme badalhoquice que é a fé é o católico, pois sabe bem que ela se construiu, e constrói, também no meio das suas mais recondidas limitações, asneiras e subterfúgicas hipocrisias e escrúpulos. Quem acredita deve ao máximo fugir de tentar entender porque acredita pois, na melhor das hipóteses, encontrará uma catequista boa como o milho. Uma fé clean só serve para anúncios do Fairy.

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