(as melhores) Declarações (de amor) (lidas e ouvidas em 2006)

Nina Nastasia (tem umas musiquinhas novas deste ano mas eu ainda não ouvi) começa o seu disco de 2004, «Dogs», com a faixa ‘Dear Rose’ onde canta isto: «I hope you’ll think of me as someone who would do anything for you». Parece o limite. Mas não é. Lembra-me o passo mais à frente dado num dos poemas russos mais famosos e populares de Pushkine, ‘Eu amo-te’, um clássico do amor não correspondido, e que termina assim (qualquer coisa como assim, já agora): «Eu amei-te tão sinceramente, tão ternamente,/ que Deus te permita que sejas amada assim por outro»; e tudo isto fixa-me na frase - bem mais positiva – carregada duma bruta simplicidade das personagens de Jonh Banville em ‘O mar’: «Perdoámos um ao outro tudo aquilo que não éramos». Só que seria impossível passar ao lado do que Oscar Wilde pôs na boca de Salomé, e que Mlada Khudoley cantou este ano ao som de Richard Strauss, o trágico e terrível: «Ich fordre den Kopf des Jochanaan». Metáforas; precisam-se metáforas; ‘eu não consigo curar ninguém da felicidade’, como diria (ironicamente) Akhmatova.

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