2006 – um ano conveniente
Se virmos com atenção em 2006 não aconteceu nada. Ia dizer praticamente nada, mas praticamente é uma palavra aborrecidamente atenuante. Nada, mesmo, é mais correcto. Entrámos pois com Manuel Pinho ( em maciço) e saímos com Manuel Pinho ( mas em folheado) , o que dá uma capicua política em que no meio podemos ter uma mistura tuga de Chavez com Putin a que chamamos pomposamente Sócrates, o tal que faz o que tem de ser feito, uma espécie de mulher a dias que chega a parecer patroa quando vai compenetrada às compras cheia de talões de desconto.
Mas esta sensação de que não se passou nada é corriqueira, acontece-nos com a música – por exemplo agora oiço os Libertines e tive uma sensação parecida, se bem que possa ser o enfartamento dum bom bacalhau à brás - ou mesmo com um Hoyo de Monterrey – mas pode ser desleixo no desumidificador - , ou até com uma fotografia de Fidel a fazer olhinhos a uma pagela da Sra da Aparecida. Está para as sensações como a feijoada para a flatulência: previsível para um intestino responsável.
Não se ter passado nada é aquela benção que nunca saberemos suficientemente agradecer, é uma espécie de sétimo dia do Génesis em estado permanente, com Deus a descansar e cada um de nós a poder pensar que é o que lhe está a fazer as festinhas no cabelo ( é absolutamente impróprio pensar que Deus é careca); o nirvana possível para quem do Tibete só conhece o nariz do João Garcia.
É claro que o caso dos cartoons do Maomé veio cirurgicamente espaçado uns meses do livro da Carolina para dar a impressão que queimar bruxas na idade média foi uma coisa de malandros, mas no fundo quem não gostaria de ter tido uma animação destas por perto, quem não pagaria por ver uma ministra agarradinha a um cepo a servir de instalação na inauguração do museu berardo, sim, quem não gostaria de ver o Poder a imolar-se em nome da Arte, numa fusão de Bill Viola com Richard Long, quem? Não se passou nada.
É evidente que tivemos o Mário Crespo, algumas aparições do Telmo Correia sem milagre do Sol, o Abel Mateus, – também conhecido como a sombra do lucky lucky – o Al Gore tornou-se o Richard Attenborourg do efeito de estufa, para tentar esquecer como tinha ficado enbushado uns anos antes, e o Nuno Rogeiro foi ao Irão sem saber para que lado era Meca, mas isto não é bem o mesmo que ter-se passado alguma coisa, aliás, se não até o Louçã tinha avisado a malta.
Resta estabelecer-se para o futuro qual o critério definitivo para saber quando se passou efectivamente (que é diferente de ‘realmente’- algumas noções de nominalismo ajudariam a perceber) algo; e a pedra de toque está no binómio Cicciolina-Padre Borga- EPC — que, por acaso, nos dias de boa visibilidade até dá um trinómio – ou seja: Sexo, Religião e Folclore. Para que algo aconteça têm de se conciliar estes três universais da nossa condição. Com a Ana Gomes, Condoleezza, e Segolene assim tão afastadas acho difícil. Limitamo-nos a manter as conveniências, porque as aparências já as desleixámos há muito.
Mas quando estiver a passar-se alguma coisa eu digo.
Se virmos com atenção em 2006 não aconteceu nada. Ia dizer praticamente nada, mas praticamente é uma palavra aborrecidamente atenuante. Nada, mesmo, é mais correcto. Entrámos pois com Manuel Pinho ( em maciço) e saímos com Manuel Pinho ( mas em folheado) , o que dá uma capicua política em que no meio podemos ter uma mistura tuga de Chavez com Putin a que chamamos pomposamente Sócrates, o tal que faz o que tem de ser feito, uma espécie de mulher a dias que chega a parecer patroa quando vai compenetrada às compras cheia de talões de desconto.
Mas esta sensação de que não se passou nada é corriqueira, acontece-nos com a música – por exemplo agora oiço os Libertines e tive uma sensação parecida, se bem que possa ser o enfartamento dum bom bacalhau à brás - ou mesmo com um Hoyo de Monterrey – mas pode ser desleixo no desumidificador - , ou até com uma fotografia de Fidel a fazer olhinhos a uma pagela da Sra da Aparecida. Está para as sensações como a feijoada para a flatulência: previsível para um intestino responsável.
Não se ter passado nada é aquela benção que nunca saberemos suficientemente agradecer, é uma espécie de sétimo dia do Génesis em estado permanente, com Deus a descansar e cada um de nós a poder pensar que é o que lhe está a fazer as festinhas no cabelo ( é absolutamente impróprio pensar que Deus é careca); o nirvana possível para quem do Tibete só conhece o nariz do João Garcia.
É claro que o caso dos cartoons do Maomé veio cirurgicamente espaçado uns meses do livro da Carolina para dar a impressão que queimar bruxas na idade média foi uma coisa de malandros, mas no fundo quem não gostaria de ter tido uma animação destas por perto, quem não pagaria por ver uma ministra agarradinha a um cepo a servir de instalação na inauguração do museu berardo, sim, quem não gostaria de ver o Poder a imolar-se em nome da Arte, numa fusão de Bill Viola com Richard Long, quem? Não se passou nada.
É evidente que tivemos o Mário Crespo, algumas aparições do Telmo Correia sem milagre do Sol, o Abel Mateus, – também conhecido como a sombra do lucky lucky – o Al Gore tornou-se o Richard Attenborourg do efeito de estufa, para tentar esquecer como tinha ficado enbushado uns anos antes, e o Nuno Rogeiro foi ao Irão sem saber para que lado era Meca, mas isto não é bem o mesmo que ter-se passado alguma coisa, aliás, se não até o Louçã tinha avisado a malta.
Resta estabelecer-se para o futuro qual o critério definitivo para saber quando se passou efectivamente (que é diferente de ‘realmente’- algumas noções de nominalismo ajudariam a perceber) algo; e a pedra de toque está no binómio Cicciolina-Padre Borga- EPC — que, por acaso, nos dias de boa visibilidade até dá um trinómio – ou seja: Sexo, Religião e Folclore. Para que algo aconteça têm de se conciliar estes três universais da nossa condição. Com a Ana Gomes, Condoleezza, e Segolene assim tão afastadas acho difícil. Limitamo-nos a manter as conveniências, porque as aparências já as desleixámos há muito.
Mas quando estiver a passar-se alguma coisa eu digo.
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