‘O vale dos Arménios’ (*)

Num dos catálogos editados por alturas da exposição de Arshile Gorky na Gulbenkian nos anos 80, no texto de apresentação (escrito pelo seu sobrinho) retive-me nesta frase: ‘É um dos poucos artistas cuja vida nada fica a dever à sua arte…’. Hoje no ‘público’ uma das páginas dedicadas a Cesariny tem como título: ‘viveu à altura da obra e a obra esteve à altura da vida’.

Tendo eu para mim que um poeta se faz com a morte, como mais nenhuma actividade - tirando a de coveiro e florista, claro – e que a vida é cada vez mais coisa para ‘decoradores de alfabetos’, viciados em low cost e pauliteiros sem miranda, chego rápido à conclusão: passo bem sem ‘vidas’. A. Gorki quando se enforcou terá deixado escrito: ‘Adeus Meus Queridos’, revelando que da vida, por mais intensa que tivesse sido, apenas deixava os seus queridos; a vida mede-se pelos nossos queridos, não pelos nossos actos. Não tarda cito o Sto Agostinho ou o Erasmo, ou ainda como uma apple strudell, ou desenho uma roda dentada a par dum casulo, ou assim.

(*) Título dum desenho de Arshile Gorky. Daqueles que o surrealismo não pára de imitar.

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