É a tal coisa de ler os clássicos. Já não se fazem fintas-com-remate-incorporado assim

O que Maniche nunca poderia saber quando fez aquela primeira finta rápida e curta é que ‘num estudo sistemático e detalhado acerca da versificação de Mallarmé, Rimbaud e Verlaine, Benoit de Cornulier mostrou que os três «começaram por produzir alexandrinos clássicos», conformes à divisão do verso em dois hemistíquios de seis sílabas, tendo o autor de Poésies praticado também, na sequência, uma divisão tripartida (4-4-4) e mantendo-se, quanto a ele, fiel a ambas essas modalidades do verso duodecassílabo, enquanto os seus émulos simbolistas delas se afastaram a partir de certa altura.’ No entanto, e até talvez por isso, despachou célere a bolita para dentro da baliza antes que aparecesse outra vez o Pauleta com ideias. ‘De notar que o alexandrino tripartido serve muitas vezes de acompanhamento ao duodecassílabo bipartido, introduzindo uma variação no interior da estrutura métrica’. O que pode perfeitamente ter presidido à opção imprevisível de Maniche, tanto mais que ‘Esta variação permite outros acompanhamentos mais livres, chegando a ir até à violação da isometria’.

Basicamente era isto. Maniche nunca dispensa as Poesias de Mallarmé e o prefácio do José Augusto Seabra citando a ‘Théorie du vers’ do tal Cornulier. É que sem estas pequeninas coisas o futebol pode-se tornar uma coisa ilegível.

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