conto de uma loira natural

Naturalmente ela tinha de ser loira. Fresca, rebelde, meia cavaleira andante, sempre próxima, sempre distante, sem diamante que a fure, desconhecida, girl toujours, sempre a fingir que não se lambe uma ferida, pose entre o fatal e o ausente, mas loiro natural, semi frio, semi quente, é tão difícil encontrar um bocadinho mais giro de gente; Quem lhe fizesse uma festa, quem lhe desse um beijo, recebia sempre um olhar terno, mas era sempre mistura de céu e de inferno, porque nos olhava através dum véu, feito com a seda com que tinham sido fiados os seus cabelos, e um coração de pedra enrolado em novelos; de uma miúda e tal, que soprava, e arrasava, com uma franja em louro natural, e uma cabecita que voava, voava, mas tanto voava como poisava, ora em rapina ora em graça, jeito de felina feito miúda giraça.

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