Quaresma XVI
Como ainda é quinta feira...
«o presidente Domingo, intelectualmente, é um tipo terrível, mas fisicamente não é o fenómeno de feira que vocês pretendem. Recebeu-me, vestido com um fato cinzento, aos quadrados, num quarto bem iluminado pelo sol. O quarto dele é limpo, os fatos correctos, tudo parece em ordem, o que ele tem de um tanto assustador é ser distraído. Por vezes os seus enormes olhos brilhantes cegam por completo, durante horas esquece-se de quem está com ele. Ora a distracção num homem mau é uma coisa terrível, imaginamos ao maus sempre alerta. Não podemos conceber um indivíduo perverso que seja também, honesta e sinceramente, sonhador, porque não podemos imaginar um homem mau só consigo próprio. Um distraído é um bem intencionado, é um indivíduo que, se reparar em nós, pede desculpa. Mas já imaginaram num distraído que, se nos vir, nos mata? Isso é que esgota os nervos, a abstracção combinada com a crueldade. Os homens já o sentiram por vezes, quando, ao atravessarem florestas selvagens, tiveram a sensação de que os animais eram simultaneamente inocentes e impiedosos, ou não fazem caso ou trucidam. Gostariam de estar, durante dez horas, numa sala com um tigre distraído?»
...e nunca se sabe com quem subimos o elevador, aqui fica uma passagem de ‘O homem que era quinta feira’ do G.K. Chesterton ( ed, Estampa, pg 178); e o facto de eu me ter lembrado deste tipo, mostra certamente que, ou ando distraído, ou é já a decadência a marinar na senilidade.
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Chesterton
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