Quaresma XV

O galego em verso trouxe-me à lembrança a frase dum personagem de ‘ Trabalhos e paixões de Benito Prada’ de Fernando Assis Pacheco, quando ele dizia que« fique-se com esta(...) na Galiza é tudo pequeno, a começar pelos grandes». Evitando ter de dizer o mesmo da nossa santa terrinha, pespego aqui o princípio meio delirante desse livro ( e também para temperar a ligeira brodebackização do template) ...

Quando o Padeiro Velho de Cademundo teve a certeza de que Manolo Cabra lhe desfeiteara a irmã, em dois segundos decidiu tudo. Nessa mesma noite matou-o de emboscada, arrastou o cadáver para o palheiro e foi acender o forno com umas vides que comprara para as empanadas da festa de San Bartolomé.
O irmão do meio encarregou-se de cortar a cabeça ao morto. O Padeiro Velho amanhou-o e depois chamuscou-o bem chamuscado. Às duas da manhã untou o Cabra de alto a baixo com o tempero, enfiando-lhe um espeto pelas nalgas. Às cinco estava assado.
«Caramba», disse o irmão do meio, que admirava todas as invenções do mais velho, «é à segoviana!».
«Mas não lhe pões o dente», cortou o outro.
Entretanto o mais novo, regressado já do Pereiro, aonde fora avisar o Padre Mestre, manifestou desejos de capar Manolo Cabra. O do meio olhou muito sério para o Padeiro Velho. Este cuspiu enojado e decretou:
«É tudo para os cães. E agora tragam-me lá a roupa do fiel defunto, que já não tem préstimo senão no inferno.»
Se perguntassem ao Padeiro Velho o que mais queria naquele momento, teria respondido:
«Assar-lhe até a memória»

E mais comentários para quê. Acompanha com ginjinha, claro.

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