Quaresma IX
Como me sinto bastante próximo da personagem do Herman que dizia «eu é mais bolos»...
«O homem compõe-se de que tem e “do que lhe falta”. Se usa os seus dotes intelectuais num longo e desesperado esforço não é simplesmente porque os tem, mas, pelo contrário, porque se encontra precisado de algo que lhe falta e para o conseguir mobiliza, claro está, os meios que possui. O erro radicalíssimo de todas as teorias do conhecimento tem sido não se aperceberem da inicial incongruência que existe entre a necessidade que o homem tem de conhecer e as “faculdades” com que conta para isso. Somente Platão entreviu que a raiz do conhecer, diríamos, a sua própria substância, está precisamente na insuficiência dos dotes humanos, está no facto terrível de que o homem “não sabe”. Nem Deus nem o animal têm esta condição. Deus sabe tudo e por isso não conhece. O animal não sabe nada e por isso tão-pouco conhece. Mas o homem é a insuficiência vivente, o homem precisa de saber, compreende desesperadamente que ignora. Isto é o que convém analisar. Porque dói ao homem a sua ignorância, como podia doer-lhe um membro que ele nunca tivesse tido?»
... acabo por não ter especiais dores nas cruzes ao ler Ortega y Gasset nas suas lições - ‘O que é a filosofia’ ( editadas pela Cotovia, 1994, pg 195). Tudo tem a ver com a forma doce com que tento encarar a nossa condição, agradecendo a diversidade biológica em relação aos gatos, algum afastamento genético de Freitas do Amaral e de Perez Metello, a incapacidade moral para o sado-masoquismo, e alleluiando ( ainda que fora de época) o Ortega por ter escrito umas páginas antes (129) que : « o descobrimento da subjectividade tem duas fundas raízes históricas: uma negativa e uma positiva. A negativa é o cepticismo; a positiva é o cristianismo. Nem aquela sem esta, nem esta sem aquela teriam podido dar tal resultado». Só um cristão se consegue ver metafísica e decentemente ao espelho.
Como me sinto bastante próximo da personagem do Herman que dizia «eu é mais bolos»...
«O homem compõe-se de que tem e “do que lhe falta”. Se usa os seus dotes intelectuais num longo e desesperado esforço não é simplesmente porque os tem, mas, pelo contrário, porque se encontra precisado de algo que lhe falta e para o conseguir mobiliza, claro está, os meios que possui. O erro radicalíssimo de todas as teorias do conhecimento tem sido não se aperceberem da inicial incongruência que existe entre a necessidade que o homem tem de conhecer e as “faculdades” com que conta para isso. Somente Platão entreviu que a raiz do conhecer, diríamos, a sua própria substância, está precisamente na insuficiência dos dotes humanos, está no facto terrível de que o homem “não sabe”. Nem Deus nem o animal têm esta condição. Deus sabe tudo e por isso não conhece. O animal não sabe nada e por isso tão-pouco conhece. Mas o homem é a insuficiência vivente, o homem precisa de saber, compreende desesperadamente que ignora. Isto é o que convém analisar. Porque dói ao homem a sua ignorância, como podia doer-lhe um membro que ele nunca tivesse tido?»
... acabo por não ter especiais dores nas cruzes ao ler Ortega y Gasset nas suas lições - ‘O que é a filosofia’ ( editadas pela Cotovia, 1994, pg 195). Tudo tem a ver com a forma doce com que tento encarar a nossa condição, agradecendo a diversidade biológica em relação aos gatos, algum afastamento genético de Freitas do Amaral e de Perez Metello, a incapacidade moral para o sado-masoquismo, e alleluiando ( ainda que fora de época) o Ortega por ter escrito umas páginas antes (129) que : « o descobrimento da subjectividade tem duas fundas raízes históricas: uma negativa e uma positiva. A negativa é o cepticismo; a positiva é o cristianismo. Nem aquela sem esta, nem esta sem aquela teriam podido dar tal resultado». Só um cristão se consegue ver metafísica e decentemente ao espelho.
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