The world as my bloody intestine know it

“m’espasmo às vezes, outras m’alivio”
de Intestino Grosso

Cézanne nem que vivesse mais cem anos descobriria uma vagina num quadro de Fontana. Mondrian em Veneza seria incapaz de se deslumbrar pela luz nos canais. De kooning jamais se inspiraria nas costas femininas espalhadas por um banho turco e Rubens tremeria de insegurança se lhe pedissem apenas para desenhar um quadrado sem lhe arredondar um dos vértices. Mas mal ficaria se não vos dissesse também que se Shakespeare tivesse lido Baudelaire outro galo cantaria entre Hamlet e Ophelia, que se Heidegger se visse fechado com Platão na caverna Lucky Luke teria passado o tempo a disparar contra a sua própria sombra, e se Churchill conhecesse a agência para o investimento teria antes escolhido Sines para o desembarque; mas não queria deixar também de vos dizer que se Einstein tivesse surgido dum plano tecnológico jamais a energia se daria ao trabalho de variar em função da massa e antes se entreteria a brincar com o molho. Tudo isto, evidentemente, sempre naquela base de que o Capitão Gancho teria sido óptima pessoa se tivesse conhecido o eng Guterres e nem o Roskolnikov teria matado a velha se tivesse lido antes o Amor de Perdição. Tanto mais que, vendo agora bem as coisas, o sonho de Oscar Wilde era ser conservador do registo civil em Lisboa para poder casar duas gajas vestidas de gola alta, dado que não tinha o jeito de Kierkegaard para fazer caricaturas, claro. Isto para não falar de bola: Caneira, remate seco, ligeiramente arqueado, em jeito, pé direito, anichado junto ao poste, se Peseiro estivesse na Guerra de Troia até o cavalo relinchava e aquela porra nem se consumava, mas não deixo de ter pena que o presidente da junta de Favões ainda não tenha tomado posse.

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