The house of the setting sun

(Em memória de um muito 'teu' poema de Blake, a (des)propósito de uma canção dos 'Animals' e acerca do cumprimento das promessas que não fiz)

Habituado a ganhar, um hábil manipulador abrigado na fatiota 'griffée' da perfeição do seu curso (ou será percurso?) de condução defensiva e evasiva, espanta-se, nos jogos que lhe propõe, com o absurdo da submissão que ela ostenta como um troféu de perda. E persiste em ignorar o óbvio naquela aparente ausência das vértebras moralistas e anquilosantes susceptíveis de provocar torcicolos nas escolhas. Tão diversos os seus diplomas de vida quantas as regras do jogo, vê-a largar sobre o pano verde dos dias cartas sem nexo. Não se defende das (ou nas) suas mãos, enfrenta-as. Não se defende da (ou na) sua boca, enfrenta-a. Não se evade das suas palavras, fica. Não se evade dos seus esquissos, fica. Lendo-o, escutando-o, sentindo-o, enfrenta-o e fica. Em paz na teia cujo fio dúctil ele vai desenrolando até ao dia em que, se ao pedir-lho, muda, souber chamar-lhe puta como se a amasse, ela lhe dê, na troca final de naipes, "o fim de um cordão de ouro" (*) guardado na manga. Para que o "enrole numa bola apenas e o conduza às portas do céu" (*), "como um testemunho de profundo e afectuoso reconhecimento" (**).

(*) Excertos de "Jerusalem", William Blake em "The Complete Poetry & Prose of William Blake" (trad. e adaptação pessoal)
(**) Da dedicatória de Marcel Proust a Gaston Calmette em "Du côté de chez Swann" (trad. pessoal)

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