Manual de canonizagem rápida
(não tenho pedalada para esta convidada e qualquer dia ela rifa-me e vai a remar para algum blog político)

Primeiro: Nunca se fazer perceber à primeira.

Segundo: Nunca rimar por afeição mas apenas por defecção.

Terceiro: O espaço e tempo nunca tomarem conta do enredo e ao não haver enredo falar apenas do espaço e do tempo.

Quarto: Fazer notar-se a existência duma memória rica e dum inconsciente remediado, mas é essencial valorizar o recalcamento dado-lhe o aspecto de livre associação.

Quinto: Mostrar-se desinteressado, ausente, sempre entre o ‘para cá’ e o ‘para lá’ da realidade, mas jamais incorrer no discurso diurético pois o leitor ao ter de ir fazer uma mijinha - mesmo rápida - pode perder o fio à meada.

Sexto : Fazer de Deus um instrumento de escrita e de estilo, tal como o ponto e vírgula, a frase curtinha, a frase que nunca mais acaba e a exaustividade gongórico dependente.

Sétimo : Jamais tratar o eu por ‘você’ e muito menos tratar o tu por ‘ele’, mas abolir totalmente o 'nós'. Geralmente nem atam nem desatam.

Oitavo : Mostrar-se ligeiramente ressentido com o mundo dos homens e muito ressequido pela aragem dos deuses.

Nono: Manter o equilíbrio certo entre o exemplo e a generalidade: oscilar, oscilar sempre, saber dar uma no paradigma e outra na aleatoriedade.

Décimo: Estereotipar sempre qualquer coisinha que se veja e depois desagravar o estereótipo com uma contrição de registo auto comiserativo.

Décimo primeiro: Assexuar ou dessexuar ou bissexuar ou homosexuar ou heterosexuar, mas jamais hermafroditar o discurso.

Décimo segundo: Evitar listas do que quer que seja, isso afasta a escrita do cânone e torna-a demasiado previsível; se bem que é bom ter a consciência que surpreender será sempre a maior falácia e o melhor engodo da espécie.

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