‘Oops! I did it again’

Dedicado e enternecido com a bomba que é – a milhas - o meu blog religioso preferido

Existem essencialmente duas formas de conservar o sentimento (ou dimensão – é mais fino – ou fervor – é também muito asseado) religioso: a ‘pascalização’ ou a ‘ paroquização’. Mas já lá irei, impõe-se sempre um intróito e desta vez não é para maiores de 18 (isto é rima algébrica)
A fé é uma virtude teologal de registo muito sobrevalorizado, tornou-se uma espécie de antibiótico de largo espectro daqueles que se toma à primeira dorzinha d’alma e que nos dá um consolo tipo sopinha de carneiro a aliviar um intestino que esteja em brasa por exemplo com uma moral sexual que se bamboleie à nossa frente sem pedir licença à dona da casa. É pois uma virtude muito enganadora e nem o bom ladrão se safou apenas com ela.
Quem esquecer que a Igreja Católica é uma igreja de vocações e de caridade terá muita dificuldade em enquadrar (é como o sacana daquele rabo que não pára de mexer há mais de meia hora na mcm, o tipo que inventou a curva também deveria ter direito à glória dos altares) a fé e de sobreviver ‘apenas’ com ela. Mas muitas vezes, como é sabido, uma pessoa não tem mesmo mais nada, nadinha, onde se agarrar – agora estou a referir-me à fé.

Algumas discussões relativamente enfocadas na moral sexual e rodeos ‘cesarianos’ ( saiu-me outro termo para-ginecologico mas foi sem querer ) afins levam-me então para a sintetica escalpelização dos dois sofisticados processos que a mente e a vontade utilizam no sentido de nos safarem de sermos uma mistura mais ou menos folclórica entre calvinistas e astrólogos.

A ‘pascalização’ é um método muito apreciado, exige uma certa capacidade de ironia interior, a valorização duma certa decadência existencial, é no fundo uma espécie de racionalismo embebido em petróleo sempre pronto a arder no primeiro contacto com a faísca do mistério, mas com um bom acordo com a associação idealista dos bombeiros. Conserva-se assim a fé como quem injecta produtos químicos para controlar a fermentação mas ansiando que ninguém se lembre de mastigar muito daquele petisco. Mas vai funcionando, desde que cada um conheça bem o seu prazo de validade.

A ‘paroquização’ é o outro processo também usado em diversos ambientes que não o religioso. Trata-se de pensar em conjunto, dar à nossa alminha o calor da companhia, o aconchego do ‘há outros que dão o ámen ao mesmo compasso que nós’. A alavanca faz de rolamento simultaneamente e é o milagre mecânico da religião feita carrocel e farturas: e temos a certeza que no final haverá sempre alguém para ficar com as rifas da quermesse. E como ‘fora da igreja não há salvação’ já se sabe, pelo menos estando dentro um tipo dessa dúvida anda mais aliviado. É a comunhão dos santos comprada como brinde dum scrabble de ladainhas.

Viver a nossa condição é, sabe-se há muito tempo, um trabalho para a mente, para a vontade e para aquela coisa esquisita, quase filha da puta, coisa de gajas e gajos, que é o coração. Por isso a real mensagem, o real ensinamento do cristianismo é este: como amar a Deus. A vida é um test drive. Espero que, no final, quem conhecer que me compre.

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