Felizes dos que conseguem forjar egos de alterne e assim não têm de se preocupar com os nobres problemas da alteridade; o outro será assim sempre um terceiro excluído, um servente da lógica trágica do amor; ao próximo, claro. O dicionário não ilustrado nas entradas 951 a 960



O eu projectado – Um dos mais sofisticados, e com tendência a funcionar em sessões contínuas numa frustração perto de nós.



O eu espelhado – Aquele eu que permite estarmos com o dedo bem enfiado no nariz e poder parecer que estamos apenas a massajar a sinusite



O eu recalcado – O eu produzido pela parte de mulher-a-dias que todos temos dentro de nós



O eu idealizado – Uma espécie de alfaiataria ontológica, onde até as metáforas corrigem a marreca



O eu sublimado – Depois de nos termos ultrapassado a nós próprios, quando sopramos para o balão até a brigada tem pena dagente



O outro eu – Aquele que nos põe os cornos frequentemente mas nunca chega a fugir-nos com a mulher.



O eu torcido – Espécie bivalviana utilizada na preparação de cozinhados ontológicos, em que o medo de que o molho estrague o sabor da carne nos torna reféns do vegetal a vida toda.



O eu tenso – Esticando as partes íntimas do ser geralmente descortinamos uma realidade elástica mas com tendência para funcionar em regime de chicote.



O eu bibelot – Quem não tiver uma personalidade de enfeite está destinado a servir de pão-de-ló



O gajo – o eu visto pelo outro



Sem comentários: