Os lugares imaginários povoam toda a literatura, havendo inclusivamente muita dissertação sobre o tema. A nossa condição também se encarregou de ir criando os seus, mais ou menos sofisticados. Será falando dalgumas coisas e dalguns lugares imaginários que hoje o dicionário não ilustrado volta às lides.



Primeira dose nas entradas 869 a 878



A Alma – (apesar de já demasiado desbastada neste dicionário, “revelo” agora que também é...) Algo que vagueia sempre às cotoveladas com um tal de corpo, mas vivem os dois aquela fidelidade esquisita dos amantes que sabem não se conseguir separar, mas também sabem que um dia cada um irá para seu lado.



O Coração – Convenção destinada a encafuar os sentimentos mais finos que não estão preparados para viver a céu aberto.



O Inconsciente – (já disse em tempos que era o “consciente mais in”, no entanto revela-se também como uma...) Espécie de cadafalso que só não soa a falso porque quando se lhe toca ele dá cada chio que só visto.



O Calcanhar de Aquiles – Onde se aconchegam as nossas debilidades, consoladas pelo chamado “mal dos outros”, com o qual todos dizem poder bem, mas que muitas vezes não sabemos é viver sem ele.



O Lar – Onde a ilusão se pode confundir com a realidade, onde a realidade se pode confundir com desilusão, onde a desilusão de pode confundir com a ilusão, e onde até a realidade se pode confundir a si própria. (por exemplo, agora lá em casa ouvem-se canções de natal, não sei se estão a entender...)



O Ponto G – O tal local que sem ser a pedra de toque, parece que quem o atinge põe em risco todo o edifício por causa do estremecimento. Comparado com ele, o Aleph parece uma brincadeira de crianças, e nem guincha nem nada.



O Horizonte – Linha topográfica traçada pela nossa reles óptica de mamífero, mas que se transforma em linha metafísica pela nossa capacidade de alavancar miopias e distancias focais.



A Força de vontade – Espécie de flatulência da alma que se incrusta geralmente nos interstícios da preguiça e tenta convencer a rapaziada que é a solução de todos os problemas, como se um arroto resolvesse definitivamente uma má digestão.



O Umbigo – Esse lugar, espécie de altar do ensimesmamento que parece foi descoberto pelos blogues, não existe de facto. É a mera lembrança dum cordão, e a lembrança de que somos filhos dum corte e por isso seremos sempre reféns duma qualquer união. Como todo o rasgamento é sempre um pretexto para uma nova costura. Mesmo que não pareça.



O “Lugar ao sol” – Aquele que todos desejam para depois poderem reclamar por uma sombrinha

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