As novas mitologias emergentes

Conversas pré-outonais e imaginárias pela encosta arborizada do monte Olimpífio



Fatiníades (ninfa do saco azul) com Narcisco (guardião das traineiras do bom Jesus de Matosinhos)



F - Narcisco, querido, vem para cá...eles não te merecem. Vê lá o que fizeram comigo, eu nem sequer matei ninguém; as nossas almas são doces como um figo, mas essas águas andam turvas e o Assis ainda ficou aí para as curvas



N – Oh Fatiníades, ai que saudades eu tinha das tuas palavras amigas, do teu penteado sem espigas, da permanente sempre bem armada, e não há peixeira que não te admire aqui nesta lota abençoada.



F - Narcisco, meu justo, as tuas palavras são o meu bálsamo. Corre, vem de trote para mim. Serás o meu Lot, e eu serei a estátua de sal que temperará o mal e te aliviará os dias



N - Fatiníades, tu és já a minha inspiração mesmo de longe. Sobrevivo como um monge, com a saudade enlatada, e metido numa bela alhada



F - Narcisco, que os novos dias te proporcionem uma abertura fácil. Eu serei o sangacho que acolherá o teu corpo frágil



N - Fatiníades, não sei como agradecer o teu enlevo. Mas como é que eu faço para fugir deste desterro?



F - Narcisco, filho, tu não me digas que não tens o teu saco azul aí bem guardado, aí aconchegado debaixo das saias duma varina, como se fosse a riqueza duma mina.



N - Fatiníades, essa tua ingenuidade é um encanto, então não sabes que essa gente nem respeita as guelras dum santo. Não se pode confiar em quem amanha o peixe, tiram as escamas a tudo o que mexe.



F - Narcisco, a tua guelra será o meu manjar, e na tua popa irei desovar



N - Fatiníades, minha esturjona, rainha do mar, serei doravante o filete mais dócil do teu fatiar



F – Oh Narcisco, serás panado pela voracidade desta gema sem idade, que traz sempre misturada a minha flor mais bem ralada



N - Fatiníades, sinto-me agora libertado, que se lixe o enlatado. O que é bom é o bacalhau do Leblon



F – Narcisco, querido, então nem queiras saber como me põe maluca uma barra da Tijuca



N - Oh Fatiníades, abençoada seja a tua geografia, aqui só me fodem com a refinaria



F – Narcisco, não te apoquentes que não é preciso. No meu oleoduto só desliza bom produto



N – Ah Fatiníades, eu estou prisioneiro das virilhas duma ambição doente, e tu é que devias ser a dona da minha comichão permanente.



F – Vem Narcisco vem, eu sinto-me tão só e com o mealheiro cheio de pó.



N – Fatiníades, suave será contigo o meu espirro, e junto a ti sinto que só cresço e nunca mirro.



F- Narcisco, tu conheces-me, os dois faremos uma canja de Fénix renascidas e depois outros galos cantarão, faremos de Portugal um grande sertão



N – Fatiníades, eu levarei comigo a sagrada padiola, tira a Fénix da gaiola, farei com ela o teu altar e imolarei a minha sanção disciplinar



F – Oh Narcisco, serás o meu Sansão, e eu serei como gueixa com a tua madeixa.



N – Irei Fatiníades, irei, aqui vejo que apenas definho, sinto que já estou no mato sozinho



F – Oh Narcisco, larga tudo, eu farei com que o meu Fel de gueixa seja a nossa única preventiva, que nada te perturbe o sono nem te retire a invectiva



N – Mas Fatiníades dizem que só o poder erotiza verdadeiramente o homem, só ele lhe garante o real magnetismo, como uma gravidade sem abismo



F – Narcisco, eu serei o íman da tua masculinidade, de nada terás de te envergonhar, pôr-te-ei o orgulho no ar, lembra-te que eu sou a ninfa que a todos arrefinfa.

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