Na busca do Santana Graal

Ou do: só agora é que cheguei à mesa do banquete, e então tenho de comer tudo ao mesmo tempo, e rápido, para poder acompanhar os outros comensais.



Será que o mundo também se dedica a passear à nossa frente espojado numa bandeja?



Talvez não seja numa bandeja tão mítica como a que passeou com o Graal à frente de Parsifal, que se mostrou manietado e “atraiçoado” pela sua cortês falta de curiosidade ( ?), ou como a que trazia a cabeça de João Baptista a pedido de Salomé, manipulada por sua mãe Herodias, e que explorava uma irresponsável e cega promessa feita por Herodes, mas se calhar o mundo até pode vir mesmo é apresentado num “cacilheiro dos desmanchos”, como um espectáculo feito à medida dos novos coristas da realidade, que vivem do expediente de mostrar as cuequinhas e são pagos por uma espécie de erecção-fee, ou dos que vivem da provocação, tentando vender um foie gras de progresso onde não está mais que um paté de ideologia manhosa, ou daqueles que também receberam o poder numa bandeja, e se saracoteiam ( com dedo em riste, ou sem dedo em riste) a brincar ao monopólio da lei, da verborreia e da moral.

O “cacilheiro dos desmanchos” é um dos pratos servidos pela bandeja dos dias, e mostra que todos os novos aspirantes a iluminados ainda têm de comer muitos gafanhotos para ter hipóteses de baptizar outro Messias, e que muito rabo terá ainda de ser abanado e ventre torcido para que alguém cumpra mais alguma promessa que valha a pena, e que ainda nos teremos de despir de muitos preconceitos de ingénua cavalaria para poder fazer as perguntas certas - e nem precisam de ser indiscretas - quando nos passarem à frente com a verdade nua, integraal e, se calhar, arrogante, ironica e inesperadamente subjectiva.

Precisamos mas é dum Parsifal, e se tiver de ser Lopes (está a falar-se pouco deste tipo!) ... olha, eu estou por tudo. Não estou nada, porra!



Mas também pode ser que ainda adormeçamos todos como no Banquete de Platão, sem conseguir acompanhar a pedalada de Sócrates que tinha feito todos reconhecer que quando um poeta é trágico por arte também será poeta de comédias. E então, se calhar, é mesmo verdade que tudo seja arte, ou então, melhor, tudo é Eros, ou julgam que eu não topei logo que o Platão andava feito com a Diotima, que andou a lançar charme filosófico para cima do Sócrates na casa do Agatão ( não, não é um novo avançado do FCPorto)



Nota “afinal”: E se fosse mesmo a própria Herodias a estar apaixonada por João Batista? Fica pois então já aqui uma (não original) pergunta: “Poderá ansiar uma mulher a cabeça de quem não ama?” (contribuindo com uma espécie de eros “amargo-lírico” , mas que não pretende concorrer com a “ascese” da minha benzedora oficial, claro!)



Ou não seremos todos afinal meras vítimas da “politique – fatale” que dança freneticamente a mando de amores proibidos. Eu cá vou tratar de arranjar uma bandeja em condições, pelo sim pelo não.

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