A dry soul, but shacked, please



Isto é para aquela menina que não sabia que as almas se devem apresentar sequinhas, e que se escandaliza com conversas absurdas.

Ou do prazer que dá escrever pensando em alguém que não nos vai ler certamente, até porque pode dispor das parvoíces a metro e à discrição, sem ter se maçar muito vindo aqui a este tasco, que não passa duma “sepultura mal caiada” de palavras pouco apocalípticas e a caminhar para apócrifas.



Das almas secas. A alma é aquela coisa que vive ali encavalitada entre o metabolismo e a metafísica, que irriga sofregamente com tudo que é líquido manhoso, não olha a cheiros, nem a diluentes, e apresenta-se ao serviço em praticamente todos os corpinhos que um dia serão apenas espíritos a esvoaçar pelo sagrado éter, mais paraíso menos paraíso. A drenagem é o trabalhinho permanente destas almas em etapa purgante, e uma alma sequinha é pois o estádio mais perfeito a que uma alma pode aspirar. Uma alma que nem uma condensaçãozinha esteja a fazer, que nem destile um pinguinho de humidade, é porque atingiu o ponto de esponja espremida que é o sonho de qualquer destes refúgios cavernosos.

A passagem do líquido dos dias pelo nosso coral metafísico não é de facto um processo fácil. A alma tem muita tendência para reter impurezas, que aparecem não raras vezes disfarçadas de melaço mas que, vai-se a ver, em muitas ocasiões não passam de borra que nunca chegou a ser café.

É por isso que uma boa análise de alma tem de utilizar sempre o teste higrométrico. Desconfiemos sempre duma alma muito humedecida, desconfiemos sempre duma alma que se apresente muito hidratada, como se fosse um creme com pernas, (gostou da imagem, gostou menina), desconfiemos sempre duma alma que se apresente sempre solícita babando ideias com sentido, são tudo sinais que indicam as almas ainda estarem a filtrar, e essas almas podem perfeitamente estar apenas a usar-nos para melhor bombear o que já esmifraram a outros.

Uma alma enxuta, é uma alma que soube desperdiçar o enganoso bem-estar da frescura que encobre os dias mal lavados, é uma alma que já encolheu o que tinha a encolher, é uma alma que já resolveu as tentações de ser cotovia em vez de pomba, como as que apresentava a “animosa e resoluta” Cosetta do Victor Hugo, e que já tem aquele aspecto coçado da ganga que fica tão bem.

Uma alma que ainda esteja a servir de passeio aos fluidos do remorso, ou da cobiça, ou da soberba, pode fingir grande brilho, só que esse brilho mais não será que um efeito da luz a bater numa superfície molhada. Mas isto, também vendo bem, não é nada que não se resolva com um alegrete de champanhe com morangos. E como eu invejo uma alma seca, mesmo que esteja refém duma unha encravada.

Sem comentários: