O tema do “Regresso” já alimentou muita pieguice mítica (deve-me ter batido qualquer marreta na cabeça por causa desta coisa dos mitos, porque eu nem gramava isso até há pouco tempo) que é para não falar já das pieguices filosóficas, ou poéticas, no entanto, os tempos para muita gente são de regresso, desse conceito que até foi estragado pelo Direito numa espécie de regresso-“desforra”, desse conceito enublado pelo Sebastianismo numa espécie de regresso-messianófilo, mas que também foi recheado com as boas novas dos cheiros, dos sabores, e das cores vindos com as caravelas dos Descobrimentos (e esta referenciazinha melosa, hem!) numa espécie de regresso-lucro, desse conceito que deu fama e proveito ao Filho Pródigo numa espécie de regresso-perdão, e que, claro, pôs o Ulisses a ter de dar outra vez o corpinho ao manifesto para poder brincar em sossego às enfermeiras com a Penélope num regresso-saudade-descanso, já para não falar no Gilgamesh que acabou por resignar-se num regresso-fatalidade (digo eu), e por aí adiante que eu já não tenho mais moedas.



Hoje o novo dicionário não ilustrado vai apresentar uma espécie de “Eterno Retorno” em versão pechisbeque. (Quando o Nietzsche e o Platão cá voltarem depois eu mando-lhes a conta) Entradas 858 a 868, com os sentimentos que adornam os regressos com menos carga mitológica. Pois todos temos direito à nossa saga. (já que a chaga é garantida)





Curiosidade – Mero parapeito, se nos encostamos muito os vasos de manjericos que enfeitam a imaginação podem cair em cima de quem passa



Ansiedade – O verdadeiro vapor que alimenta a máquina, só se apanha com a fuligem se estivermos contra o vento, ou distraídos com a cabeça de fora a ver quem passa.



Ânimo de recomeçar – A vontade em versão flatulente, se vier acompanhada de soluços a barraca é completa.



Recordação – O incesto do pensamento



Expectativa – Velha raposa que ataca sempre que sente o galinheiro a pensar que já passou a hora da canja



Ilusão – O que transforma o pastor num especialista em costeletas na brasa



Desilusão – O que faz um cordeiro começar a pensar que mais valia ter sido vaca leiteira



Rotina – A verdadeira fonte de novidades, como um novelo é o resultado maduro duma revolucionária fiação, e ninguém tricota directo da carda.



Novidade – A verdadeira fonte de rotinas, como uma retina é o mero resultado duma série de impressões que querem fugir à realidade. Cria dependência.



Surpresa – O que de facto prende mas não consegue agarrar. É uma espécie de realidade em formato de borboto.



Reencontro – Sentimento típico dos pescadores quando estão à “boca” da grelha. Vem acompanhado da nostalgia do anzol.
E não, não vou falar da saudade. Acho que já falei.

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