Está-me a apetecer tanto escrever como levar porrada. «Então porque é que escreves». É para experimentar fazer uma coisa que não me apetece, mas sem ninguém me estar a obrigar... «A isso às vezes dão o nome de...» Não, não, eu não estou mesmo a retirar prazer disto, é apenas para testar a secura da imaginação e ver se ela se dá bem com estes ares abafados. «A ti nunca te falta imaginação, não brinques com as palavras, vá, faz-te mas é à vida e sem lamúrias». Fosga-se, é tão giro dizer fosga-se, já não se pode estar sobre o efeito duma rinite mental, já não se pode escrever como quem espirra, um tipo já não pode ter os seus problemas, e resolvê-los assim sem grandes esquemas. «Podes, não precisas é dos apresentar aqui, sem maneiras e com rimas foleiras». Olha, vai-te lixar:
Rap do manipulador
Eu cá sou um ingénuo profissional, ninguém me leva nada a mal, e atiro sempre a matar, fingindo assobiar para o ar, e quase nem preciso de paleio, saco tudo o que quero do alheio, apontando sempre para o meio, só que nunca desprezo os extremos, pois qualquer dia ainda nos vemos.
Mas eu sou tão imparcial, tão racional, que se calhar até vou para comentador, vou parir conselhos sem dor, parece-me um desperdício ser só desfazedor, ah mas se calhar não posso, isto é um apenas um ócio, e estragava-se-me o negócio, olha que gaita para isto, mas também está já muito visto, só que é realmente uma pena, eu que até acho que dava conta da faena, eu que noutro dia até fiquei de pensar, nuns conselhos que podia dar, nuns belos tiros para o ar, fosga-se, é tão giro dizer fosga-se, e ajuda tanto a passar o tempo, e como não se diz nada, parece que se diz tudo, e há sempre alguém que se ri, ou que se comove, e como nunca nos tiram a prova dos nove, seremos sempre uns heróis, e isto que rimava tão bem com caracóis, só que não posso, senão dizem que estou a imitar os surrealistas, que até rimam com malabaristas, mas pronto nem tem nada a ver, tal como até já se perdeu o ritmo deste rap escrito à pressa, nesta trampa de conversa, que não leva a lado nenhum, que parece papa nestum, olha espirrei, mas como não sou monárquico foi um espresidente, não espirrei nada, foi só um repente, o que se escreve para ter piada, nem estou doente, fosga-se, é tão giro dizer fosga-se, e dá tão belo efeito, dá-lhe o toque perfeito, é como a rima, nem fecunda nem sai de cima, é como jogar na lotaria, com a terminação a fazer as vezes da poesia, só que eu sou um ingénuo profissional, a mim ninguém me leva nada a mal, mesmo espirrando conversa, mesmo com o pingo no nariz, sim mas que mal é que eu fiz, só porque os levo todos à certa, fazendo aquela força que a ninguém aperta, fazendo aquela pontaria que parece nunca acerta.
Prontos, tenho mesmo de acabar com esta merda das rimas. A Dra girassol até já ameaçou desligar-me da máquina, porque acha que já estou mesmo sem leitores quase nenhuns, mas é tão bom não ter sitemeter, escrever apenas para o éter... pronto, pronto...
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