Da necessidade. Mais uma, se calhar, estragada pela psicanálise. Como se a alma fosse um rim, no divã, à espera de hemodiálise. Como é bom precisar de alguém, de verdade, e isso ser um inesperado sinal de liberdade. De quem salta livre com um pára-quedas por companhia, companhia, mas que conceito com queda, para ser a mais livre e harmoniosa sinfonia. Não, não o estraguem com sinónimos, esses mimos de judas, eu detesto sinónimos, gosto de me repetir como insinua Kundera, ai quem me dera, poder deitar sempre o meu olhar na alma de que preciso, e ter ali sempre um aviso, por companhia, esta força quase etimológica, em que "com" o mesmo "pão" se alimentam duas almas, como que cozidas num forno de vidrado são, e porque não, até polvilhadas pela lógica, porque só a necessidade faz sentido, tal e qual um corpo forte primeiro foi dorido.

Como é acertado precisar, precisar do que é bom, viver da precisa necessidade desse dom, que é querer bem alguém, e alguém que também precisa.

Também se calhar, e para não falhar, pondo Unamuno e Borges num cruzamento de viés, como um menino, «vê onde pões os pés!» só acredito num Deus de peregrino, que me garanta sem desatino, mas com lealdade, um estado de saborosa necessidade.

Alma que vive para estar saciada, vive viciada, é alma que só irá flatular derrota, será alma que só arrota, e que acabará sufocada à espera de ser aliviada. A serenidade é um estado, herdado, da pura necessidade, só alcançado por quem sabe, que precisa, nem que seja só duma estrela poisada na testa, como se fosse uma festa, uma festa que fosse, também me alegraria, pois o que eu precisaria era dum coração bem dividido, com a necessidade agora já confiante, e airosa, e agora até vaidosa, a usar a assoalhada, pelo sol mais bem banhada.





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