Posta restante: "Não se cai no ridículo, sobe-se no ridículo." - António Ferro (Teoria da indiferença – da arte e da vida)
O correio dos leitores #2
Oliveira de Cruzes, aos 15 de Julho de 2004
Dª Carlota
Ai gostei tanto de ir ao seu estabelecimento esta semana. Então e não é que encontrei lá aquele rapaz o P. Rolo Duarte. Como eu gosto do ver trabalhar. Praticamente não sou capaz de ter nenhuma ideia sem que ele tivesse pensado nela antes. E sempre a falar do filhinho dele, aquilo sim deve ser um pai esmerado. Aquele salame maravilhoso que a senhora lá serve é dedicado a ele, não é? Mas o que eu gostei mais foi da fotografia do cavaleiro no deserto. Vou-lhe fazer uma confidência, sabe que fiquei a pensar que era eu, ali solitário entregue às dunas, sem me preocupar com os meus horários e as minhas canseiras, e esperar que o acaso me trouxesse a minha mata-hari com segredos fascinantes. Tipo um piropo num redemoinho do siroco, ai o que faz ter uma musa assim que quase versejo. Aquilo é tão interactivo que até me saltou uma areiazita para o olho, mas esfreguei e passou, felizmente era amanteigada. Mas minha querida, aqueles seus pastelinhos da “revisão de aforismos” deixam-me sempre de água na boca e qualquer dia peço-lhe a receita sabe. O meu sonho era fazer um aforismo para a senhora poder rever. Com a receita desses bolinhos já deve ter comprado toda a colecção da Teresinha não? Olhe, e nem me posso esquecer, um rapaz que eu conheci noutro dia quando fui renovar o meu stock de buchas no AKI, até me comentou «tu conheces aquela moça dos dois m’s que tem um pronto-a-comer, gosto imenso daquela tarte dela das “causas e efeitos”, só que fico sempre com uma azia desgraçada». Eu fiquei logo à rasca, porque aquilo às vezes também me dá crises de refluxo gástrico, e até porque comecei a pensar que os dois m’s eram de Marina Mota e fiz de conta que não a conhecia, mas agora que sei que o verdadeiro nome é D. Carlota, deu-se-me um alívio que até vou convidar o meu amigo para uma cerveja quando terminar de forrar a minha marquise. Olhe acabei por tomar All-Bran como me recomendou, mas chiça que aquilo é enjoativo, continuo a preferir os anti espasmódicos que a minha vizinha de baixo me arranja com as receitas da caixa dum médico amigo dela que por acaso até também lê blogs como o Abrupto e assim, e até já lhe escreveu um mail mas acho que não foi publicado porque ele se descaiu e escreveu “merda”. Olhe sabe que a minha miúda também vai à Licas a esteticista, e soube que a senhora é muito boa cliente e que lhe empresta os livros da Inês Pedrosa e assim. Parece que essa escritora também lhe mudou a vida e passou a olhar para o mundo sem verniz, sem rímel, só com a pureza dos dias (esta frase “dos dias” vi numa sobremesa que a senhora de vez em quando recomenda lá no seu estabelecimento, quando o cozinheiro “de turno” é aquele muito apessoado e assim). Mas querida Carlota, posso chamá-la assim não posso? ou será que ainda levo com uma dose de “causa e efeito”, ai como eu adorava credo, até encadernava ao pé dum poema que um dia a minha vizinha do lado me fez quando acabou de ler um livro daquela moça a Natália Correia, credo que ela era esquisita, a minha miuda até me disse que ela era ..., cruzes, que essas coisas fazem-me tanta impressão, valha-me Deus. Olhe despeço-me por hoje e até fica a conhecer o meu verdadeiro nome,
Seu admirador confesso
Félix Manápulas
Servido por Posta restante. # 08:30
O correio dos leitores #2
Oliveira de Cruzes, aos 15 de Julho de 2004
Dª Carlota
Ai gostei tanto de ir ao seu estabelecimento esta semana. Então e não é que encontrei lá aquele rapaz o P. Rolo Duarte. Como eu gosto do ver trabalhar. Praticamente não sou capaz de ter nenhuma ideia sem que ele tivesse pensado nela antes. E sempre a falar do filhinho dele, aquilo sim deve ser um pai esmerado. Aquele salame maravilhoso que a senhora lá serve é dedicado a ele, não é? Mas o que eu gostei mais foi da fotografia do cavaleiro no deserto. Vou-lhe fazer uma confidência, sabe que fiquei a pensar que era eu, ali solitário entregue às dunas, sem me preocupar com os meus horários e as minhas canseiras, e esperar que o acaso me trouxesse a minha mata-hari com segredos fascinantes. Tipo um piropo num redemoinho do siroco, ai o que faz ter uma musa assim que quase versejo. Aquilo é tão interactivo que até me saltou uma areiazita para o olho, mas esfreguei e passou, felizmente era amanteigada. Mas minha querida, aqueles seus pastelinhos da “revisão de aforismos” deixam-me sempre de água na boca e qualquer dia peço-lhe a receita sabe. O meu sonho era fazer um aforismo para a senhora poder rever. Com a receita desses bolinhos já deve ter comprado toda a colecção da Teresinha não? Olhe, e nem me posso esquecer, um rapaz que eu conheci noutro dia quando fui renovar o meu stock de buchas no AKI, até me comentou «tu conheces aquela moça dos dois m’s que tem um pronto-a-comer, gosto imenso daquela tarte dela das “causas e efeitos”, só que fico sempre com uma azia desgraçada». Eu fiquei logo à rasca, porque aquilo às vezes também me dá crises de refluxo gástrico, e até porque comecei a pensar que os dois m’s eram de Marina Mota e fiz de conta que não a conhecia, mas agora que sei que o verdadeiro nome é D. Carlota, deu-se-me um alívio que até vou convidar o meu amigo para uma cerveja quando terminar de forrar a minha marquise. Olhe acabei por tomar All-Bran como me recomendou, mas chiça que aquilo é enjoativo, continuo a preferir os anti espasmódicos que a minha vizinha de baixo me arranja com as receitas da caixa dum médico amigo dela que por acaso até também lê blogs como o Abrupto e assim, e até já lhe escreveu um mail mas acho que não foi publicado porque ele se descaiu e escreveu “merda”. Olhe sabe que a minha miúda também vai à Licas a esteticista, e soube que a senhora é muito boa cliente e que lhe empresta os livros da Inês Pedrosa e assim. Parece que essa escritora também lhe mudou a vida e passou a olhar para o mundo sem verniz, sem rímel, só com a pureza dos dias (esta frase “dos dias” vi numa sobremesa que a senhora de vez em quando recomenda lá no seu estabelecimento, quando o cozinheiro “de turno” é aquele muito apessoado e assim). Mas querida Carlota, posso chamá-la assim não posso? ou será que ainda levo com uma dose de “causa e efeito”, ai como eu adorava credo, até encadernava ao pé dum poema que um dia a minha vizinha do lado me fez quando acabou de ler um livro daquela moça a Natália Correia, credo que ela era esquisita, a minha miuda até me disse que ela era ..., cruzes, que essas coisas fazem-me tanta impressão, valha-me Deus. Olhe despeço-me por hoje e até fica a conhecer o meu verdadeiro nome,
Seu admirador confesso
Félix Manápulas
Servido por Posta restante. # 08:30
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