Por estrita imposição médica tive de voltar às gajas inacessíveis



Fui à consulta de rotina da Drª Girassol, e ela advertiu-me que: ou eu começava a tratar dos assuntos sérios seriamente, ou ia terminar a contar anedotas sobre enfermeiras no circo Chen, e mesmo assim só me punham naquelas sessões em que os bilhetes eram oferecidos às viúvas dos flautistas da banda da Carris. E ainda para mais ela estava furiosa porque eu agora m'andava a meter com pessoas que não conheço, só que já ninguém tem pachorra para as minhas tiradinhas armado ao engraçadinho, e então a única safa possível que tenho é usar da minha farta experiência mediurnica para disponibilizar às hostes, que andam arrepiadinhas com a antevisão da forquilha populista do demónio santanista, alguns pontos de socorro da mitologia do feminino. Sim porque o Sol quando nasce é para todos (será isto um mito populista de esquerda?) As verdadeiras mulheres fatais, as que nos poderão então encantar os dias, no dicionário não ilustrado, entradas 818 a 827





Fadas boas – As que gostam de provar o sabor das tartes em meia cozedura lambendo-as primeiro nas suas varinhas mágicas. Quando as tiram do forno vêm fofinhas e derretem-se todas. Os homens bem apessoados que lhes caem na forma raramente têm dificuldades na vida porque essas fadas estão treinadas a descalçar botas.



Bruxas más – Grandes malandras que andam armadilhadas com fusos amaldiçoados e que não vão descansar enquanto não picarem a primeira princesa que se candidate ao PS. O pior é se o beijo do despertar ainda for uma prerrogativa do príncipe Soares. Mas vendo bem, não custa nada, fechem os olhos e pensem que é a Barbara Guimarães. (se vos aparecer a imagem da AnaGomes ofereçam outra vez a mãozinha à bruxa)



Deusas (“amigas tipo”) – As que nos põem as estrelas da pop a vir comer à mãozinha, e sacam benzeduras de primeira água, ou seja das que fazem a água benta parecer mera água oxigenada



Anjas da guarda – Toda a alma que se preze inveja a multiplicidade do feminino, isto é certo. Mas o “retorno” ao estado angélico acaba por ser o desejo secreto de qualquer mulher. Geralmente quem se oferece para tomar conta das asas dessas meninas prendadas enquanto elas se penteiam acaba a cuspir as penas. Os mais endiabrados ficam com elas – as penas - entaladas nos dentes e a rosnar.



Feiticeiras – Especialistas em falinhas mansas e palavras difíceis, cobrem-nos com o seu voluptuoso manto, simulando a protecção dos ventos ciclónicos, mas depois há rapaziada que fica tão dependente do seu abafo que já não sabe viver ao relento.



Grandes sacerdotisas – Acabadinhas de sair do Tarot já um bocadito com os copos, mas como trazem os olhinhos aluarados a brilhar continuam a conseguir reflectir o que nos vai na alma. Não recomendáveis a homens que vivem de peito feito.



Sereias & Ninfas – Raparigas que produzem tais mareamentos que já nem se lá vai com Nausefe. Os homens que se gabam de que não vão com duas cantigas, o melhor é nunca as apanharem a passear-se junto aos cacilheiros dos dias, porque irão acabar sempre a pedir que lhes segurem na testa e agarrem no estômago, e não é por causa do melão que apanharam a meio da travessia.



Sibilas & Pitonisas – As que tratam o futuro como quem come tremoços, e geralmente provocam espasmos intestinais a quem lhes quer comer também as cascas, e que em vez de cervejola prefere a aguinha sulfurosa das termas. Recomendadas a comentadores com crises de deficit de previsão.



Sherazades – As que nos vão contando histórias de encantar e nos adiam a morte com inimagináveis cenas de sexo olímpico-nirvanico. São as mais desejadas pelos políticos que gostam de governar por detrás do véu, mas que adoram que lhes façam festinhas no cabelo.



Cinderelas – As que fingem fugir ao bater da meia noite, mas que no fundo não resistem a um sapatinho novo. São as ideais para homens de calçadeira em riste que procuram dar largas à sua indigitação.

Sem comentários: