Invenções Terapêuticas

...abaixo os "racionamentos semânticos"



A Drª Girassol disse que eu me estava a afastar do tratamento, e que estava a ficar pirrónico sempre a bater na tecla do durón barrueso (nome artístico). Não tarda ainda caía na cirrose santanática, e por isso tinha de atalhar rápido com uns comprimidos novos à base de “pólen de palavreado” que parece darem-se muito bem com o meu organismo



Eu até estou a tomar isto um bocadinho contrariado, mas a Sra dra ainda impõe muito respeitinho e vai daí, toca a desfazer ( senão arranha no gasganete): li no blog modus vivendi:



(...) um homem a valer (...) não pede uma ternura diferente da que é capaz de dar (...) ” de Sándor Márai, in A conversa de Bolzano, ed. Teorema, que eu nunca li, nem faço ideia de quem seja, como de muitos outros dos que lá leio, ao menos não morro estúpido, e que Deus me perdoe, se é que a ignorância tem perdão.





Mas como isso é tão mentira! Um homem assim não presta é para nada. Quem só pede aquilo que saiba também ser capaz de dar, de retribuir, é um mero balancete com pernas. Medroso da dívida, medroso do agradecimento, um eterno desfavorecido. Uma alma levanta-se com a alavanca do desprezo pelos equilíbrios amorosos. Os melhores corações são os divididos. Os que batem válvulas com o sabor da recusa e com o sabor do engano. Os que vivem de luvas, de amores corruptos, e de fidelidades pagas a preço de ouro. O que vale um homem que nunca tenha suplicado por um carinho imerecido. O que vale um homem que nunca se tenha arrastado numa carência estéril e frívola. Um homem que apenas se «consagra (...) aos encantos da vida» parece um tocador de pífaro a acompanhar um xilofone: um parolo do amor, alguém que nunca soube subornar um afecto a que aparentemente não tivesse direito. O amor é um caderno de encargos: só se rentabiliza com as alcavalas, com clientes caprichosos e amantes com espírito de empreiteiro, sempre à coca de poupar no cimento e abusar da lágrima.



E repare Drª Girassol falei sempre com os melhores modos, mas acho que me dava melhor com a outra terapia.

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